O Monstro está Vivo!



O Monstro está vivo

O primeiro livro de ficção científica do mundo fora escrito por uma mulher, Mary Shelley, em 1818, intitulado "o Moderno Prometeu" e mais conhecido como o monstro de "Frankenstein". Contudo, parece ser a analogia perfeita para nossos tempos, tempos em que a “criatura” faz uma devassa na vida de seu “criador”, por um misto de motivos - vingança, falta de perspectiva e, principalmente, falta de formação ética. 

No livro não há sinais da morte do monstro, pois ele tinha capacidade de suportar o extremo frio, mesmo que tenha se direcionado ao norte infinito. Sua última aparição, segundo navegadores antigos, fora no Polo Norte. E é um navegador chamado Robert Walton que nos narra, no livro de Shelley, a história de Frankenstein. Mais precisamente a do monstro criado por Vitor Frankenstein, cientista e alquímico que morava em Genebra. No livro, o criador morre, mas a criatura permanece viva. Desolada, mas viva. Mesmo depois de ter matado a esposa, o irmão mais novo, o melhor e único amigo do criador por vingança, a criatura permanece viva e muito desolada. Porém, parece que a criatura desceu ao Sul do Globo, nos últimos anos.

Há uma fantasmagoria rondando os Capitalistas, há um espectro roubando a esperança plantada pela Esquerda, há algo lúgubre na noite dos homens do Ocidente, há um monstro corroendo as entranhas de regimes democráticos. O monstro está vivo! 

Marilena Chauí, nesta semana, em encontro dos intelectuais na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo, declara que o Golpe que se configura na Política brasileira, por meio de um Impeachment contra Dilma Rousseff, é uma vitória do “Capital” sobre a “Justiça Social”. Cenário monstruoso, pois a criatura, que é o Capitalismo, torna-se mais importante e infinita que os seres humanos, seus criadores. 

Vladimir Safatle, em artigo publicado há duas semanas na FOLHA, diz que acabar com o Estado Islâmico só trará coisas piores, pois fora assim com a Al Qaeda. O filósofo brasileiro aponta a “Indústria do Medo” (os Capitalistas, a Indústria bélica e os governantes acordados com ela) como a principal fonte criadora do Terrorismos dos últimos anos no mundo. Safatle, pega o exemplo de Hasna Ait Boulahcen, de 26, para mostrar que quando normalizamos ou naturalizamos a exclusão, logo virá a vingança, a violência e a busca por um Norte. Hasna era uma dentre os terroristas do atentado de 13 de novembro em Paris. Criamos o monstro ao não dar a ela formação ética, convívio humano, perspectivas de vida. Assim fora com o monstro de Frankenstein, relegado ao ostracismo pelo criador por vários anos, assim fora com Hasna relegada pela política excludente e xenofóbica da França dos últimos anos. Parece que o monstro está cada vez mais vivo e nos persegue.

Em outra esfera, o PT que outrora trouxera a Esperança para vencer o Medo, vendeu-se à Cargos, em um jogo histórico em que o PMDB, partido esquizofrênico e capaz de articulações horrendas típicas de qualquer trama de romance gótico, é capaz de fazer e nem ser notado. O PT criou da Esperança o Medo que tanto combatia. Fez mais do mesmo. Aproximou-se mais de PSDB e PMDB que tanto combatia e hoje são faces de uma mesmo Partido. Em um mesmo momento em que o STF tem plena autonomia para julgar, criação do PT, pois antes o Engavetador Geral da República do governo FHC não dava procedimento aos processos de corrupção (foram mais de 300 em 8 anos), curiosamente a principal fonte investigada é o próprio criador do aparelhamento do Estado para perseguir corruptos – o PT. Mais uma vez a criatura estrangula o criador. Enquanto o PSDB e PMDB estão mais aparelhados (financeira e midiaticamente) e na defensiva, o PT sofre as agruras de nosso tempo político.

Ora por vingança (do protagonista do romance de Shelley ou por Eduardo Cunha -PMDB - contra seu processo de cassação), ora por falta de perspectivas (dos jovens recrutados pelo EI), ora por fata de formação ética (base política e partidária no Brasil), o Monstro se demonstra cada dia mais vivo e eterno, se não cuidarmos dele, não fizermos de nosso cotidiano nossa mais intensa luta pela melhoria da qualidade de vida do outro, as respostas serão cada dia mais devastadoras, horrendas e difíceis de olhar. Não pela feiura do monstro, mas por ser o monstro o espelho plano de nossa falta mesma de ética e esperança no OUTRO. 

É nestas horas que a vida nos dá a noção de que o monstro está vivo e desce ao SUL.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Nunca li Shelley, pretendo um dia, mas tirando o contexto político cujo meu pessimismo não permitirá comentar - principalmente sobre o monstro -, estou encantado com a construção e o jogo de palavras.

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  3. Nada de pessimismo, somos o prólogo da História!

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