UNESP 2020 - REDAÇÃO NOTA MÁXIMA




Há algum tempo, a revista “Esquire” publicou um artigo no qual o autor, que nunca havia fumado, descreve as experiências decorrentes de se propor a fumar um maço de cigarro ao dia, durante um mês. Ao longo da trajetória do desafio, o homem reflete sobre o tabagismo e suas consequências enquanto fenômeno social, na medida em que tenta reproduzir o ato de fumar como se já estivesse há muito habituado a ele. Nessa tentativa o “novo fumante” busca ocupar os mesmos espaços utilizados por tabagistas de longa data e nota que, na atualidade, fumar é fazer parte de um clube restrito composto por praticantes de um vício que estão constantemente sob olhares de desprezo e de desaprovação lançados por não-fumantes. Essa situação, inerentemente adaptada, se repetirá em um futuro um pouco distante com aqueles que continuarem a usar carros para se locomoverem. 

Para a corrente filosófica positivista, a humanidade tende ao progresso. De fato, observa-se que, pelo menos no que se refere às tecnologias, a evolução humana foi vigorosa. A invenção do automóvel representa um marco desse progresso ao possibilitar uma locomoção mais rápida. Entretanto, o progresso e evolução estão fortemente ligados ao contexto no qual se manifestam e, nesse sentido, a popularização do carro se deu em meio a um cenário de pouco conhecimento acerca das consequências ambientais causadas por esse meio de transporte como, por exemplo, a intensificação do efeito estufa oriunda da emissão de gases poluentes pela queima de combustível. Assim, tal como o cigarro, outrora representante de um estilo de vida “descolado” e hoje visto como maléfico, o carro caminha no sentido de ser, em breve, o vilão. 

Todavia, não são apenas as consequências ambientais que estão diminuindo o apreço pelos carros. As grandes cidades têm enfrentado cada vez mais problemas de mobilidade e esses automóveis se destacam no agravamento dessa situação. Isso porque, tal meio de transporte é utilizado em larga escala nos grandes centros urbanos e, apesar de um carro poder transportar, em geral, cinco pessoas, ele é muitas vezes utilizado individualmente. Logo, o número de veículos em circulação é elevado, o que aumenta os congestionamentos e torna o trânsito caótico e lento. Os indivíduos, então, começaram a preferir modalidades alternativas que cumpram a mesma função de deslocamento, porém de forma mais eficiente. E, assim, as consequências advindas da utilização, ao causarem desprezo e desaprovação, aproximam novamente o carro do cigarro. 

Em suma, depreende-se que em um futuro pouco distante a revista “Esquire” poderá publicar um artigo que narre a experiência de possuir e dirigir um carro, meio de transporte que se tornará símbolo ultrapassado de progresso e que, seguindo essa perspectiva, será o novo cigarro: utilizado por alguns e desprezado por muitos. Essa situação decorrerá do entendimento da grandeza dos malefícios causados ao meio ambiente pela poluição gerada pelos carros e pelo desejo de uma locomoção mais eficiente em cidades cada vez mais sobrecarregadas. Faz-se necessário, então, pensar quais serão os meios de transportes a serem utilizados, os quais devem ser preferencialmente coletivos (ônibus, metrô) e, em um futuro um pouco mais distante, será preciso discutir “qual será o novo carro”.


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