Politicamente correto





Escreva uma Carta Argumentativa sobre “O Politicamente
Correto” para a jornalista Rachel Sheherazade, elencando argumentos
consistentes em que você, remetente da carta, concorde ou discorde da
jornalista. Escreva a carta mantendo o português formal e respeitando as normas
de uma Carta (Cabeçalho, Vocativo, Pronome de Tratamento adequado, Corpo da
Carta, Despedida e Assinatura apenas com as iniciais do nome). 


TEXTO 1.



As origens da expressão “politicamente correto” - 9 de fevereiro de
2012.

Com frequência, a mera menção de algum episódio que envolva racismo,
homofobia, sexismo ou xenofobia é desqualificada com referência ao termo, que
estaria nos impedindo de sermos nós mesmos. É como se “politicamente correto”
fosse um ser com vontade própria, um movimento, um sujeito dotado de
consciência.

Por Idelber Avelar

Se pudéssemos resumir de forma simplificada a grande descoberta dos
estudos da linguagem no século XX, o resumo seria: a língua não é um
instrumento neutro. Dito assim, parece à toa. Mas quando desempacotamos as
premissas e conclusões que se desprendem desse enunciado, algumas consequências
se impõem para a prática política de esquerda. Não se trata só de que os
sujeitos que se utilizam da linguagem não são neutros, mas que os próprios
vocábulos, estruturas e entonações da língua trazem consigo uma história
carregada de sentidos culturais e políticos. Não é do interesse dos que lutam
ao lado dos mais fracos ignorar ou minimizar essa história.

A expressão “politicamente correto” se firmou na língua inglesa como
parte de uma ofensiva da direita estadunidense nas chamadas guerras culturais
dos anos 1980 e 1990. Embora haja ocorrências da expressão em textos da New
Left (a Nova Esquerda), foi naquelas batalhas que o termo passou a funcionar
como designação de um suposto autoritarismo policialesco da esquerda no uso da
linguagem. A esfera do politicamente correto abrangeria classe, raça, gênero,
orientação sexual, nacionalidade, descapacitação e outros marcadores de
subalternidade. Mas, sem dúvida, o exemplo paradigmático sempre foi racial.

Enquanto parte significativa dos negros dos EUA passava a utilizar, como
autodescrição, o termo “afro-americano” — sob a lógica de que preferiam
identificar-se pela cultura de origem, e não pela cor da pele —, o
conservadorismo realizava simpósios como “Correção Política e Estudos
Culturais”, promovido pela Conferência das Humanidades Ocidentais, em Berkeley,
em 1990. O colóquio se propunha a examinar “qual o efeito que tem sobre a
pesquisa acadêmica a pressão para se conformar a ideias atualmente na moda”.
Tomava corpo a bem sucedida estratégia da direita nas guerras culturais.
Partia-se de uma premissa jamais demonstrada, a “pressão” para que se adotassem
expressões “politicamente corretas”. No mundo realmente existente, não se tinha
notícia de grandes pressões do movimento negro sobre quem fosse para que se
abandonasse o termo “black” por “African-American”. Não se tinha notícia de que
ninguém tivesse sofrido dano considerável por não usar “ele ou ela” (ao invés
de somente “ele”) em frases com sujeito de gênero indeterminado. Mas o mero ato
de se explorar a possibilidade de uma nomenclatura alternativa, mais conforme à
identidade reclamada pela comunidade, no caso racial, mais inclusiva e menos
discriminatória, no caso dos pressupostos sexistas da língua, já oferecia o
arremedo de bicho-papão a partir do qual a direita dos EUA desenvolveria sua
tática favorita: silenciar o outro enquanto se faz de vítima oprimida. O
coroamento dessa tática ocorreu no famoso caso da Universidade Stanford, que
marcou a vitória da direita naquele debate e a consolidação da expressão
“politicamente correto”.

Os currículos universitários norte-americanos incluem um curso de
obras-primas ocidentais que percorre, em geral, um trajeto que vai de Homero
(ou Platão) a Nietzsche. Esses autores também são lidos numa série de outros
cursos que, em Stanford, compõem as grades dentro das quais o aluno pode
cumprir os requisitos de humanas. Em março de 1988, o Senado de Stanford
decidiu aprovar uma proposta de substituição de um desses cursos de cultura
ocidental, em uma das grades, por um curso intitulado “Culturas e valores”, de
cunho comparativo, no qual se incluíam textos “não-ocidentais” como os do
ensaísta antilhano Frantz Fanon e da ativista indígena guatemalteca Rigoberta
Menchú.

Dentro de Stanford, a implantação do novo currículo foi absolutamente
tranquila, num debate já informado por anos de reflexão sobre a necessidade de
oferecer outras versões sobre a modernidade. A votação no Senado foi normal. A
defesa do projeto foi ligeiramente politizada por grupos de estudantes, mas
tudo correu dentro da normalidade que se espera de uma revisão curricular como
qualquer outra, exceto por um detalhe. As principais fundações da direita,
grupos religiosos e o Partido Republicano acompanhavam o debate de perto. A
grande imprensa passou a dedicar blocos de seus programas à “eliminação da
cultura ocidental no currículo das universidades americanas”, ao “assassinato
de Shakespeare e Platão” e à “intimidação de ativistas estudantis”. Estavam
lançadas as sementes das guerras culturais.

Desde Watergate, a queda de Nixon e a consequente desmoralização da
direita estadunidense, as forças conservadoras do país passaram a dedicar
intenso esforço à vitória na luta cultural. Investiram-se milhões de dólares na
construção de think tanks como a Heritage Foundation. Os neo-conservadores
sabiam que era no terreno da cultura que se jogaria a cartada decisiva. Em
1988, a direita republicana concluía oito anos de controle sobre a Casa Branca,
acabava de estrangular a revolução centro-americana, estava pronta para
presenciar a queda do comunismo e identificava na cultura a nova guerra que
deveria vencer. William Bennett (ex-secretário de Educação no governo Reagan),
Herbert London (fundador do Instituto Hudson, um think tank de direita), Allan
Bloom, autor de O fechamento da mente americana, e Dinesh D’Souza, autor de
Illiberal Education, passariam a acusar Stanford de jogar no lixo a cultura
ocidental. O livro de D’Souza atacava especialmente a incorporação do
testemunho de Rigoberta Menchú, ativista guatemalteca de etnia maia-quiché que
aprendeu espanhol já adulta e narrou sua história de vida à antropóloga
franco-venezuelana Elizabeth Burgos. O relato é indissociável das atrocidades
cometidas na guerra civil da Guatemala nos anos 1970 e 1980, de responsabilidade
de uma ditadura financiada pelos EUA. O que enfurecia no testemunho de Menchú
era que, ao ser incluído num currículo universitário de culturas ocidentais,
ele dava uma resposta aos que idealizam o Ocidente ou “os valores ocidentais”
como cavalos de batalha. O livro implicitamente dizia: O Ocidente é isto aqui
também, é atrocidade também. No entanto, a versão do episódio Stanford apresentada
nas redes televisivas e em revistas como Time e Newsweek se limitava a
replicar as fundações de direita: a universidade estava “eliminando a cultura
ocidental” do currículo e “matando” Platão e Shakespeare.

De lá para cá, a expressão “politicamente correto” virou moeda corrente
no Brasil. Com frequência, a mera menção de algum episódio que envolva racismo,
homofobia, sexismo ou xenofobia é desqualificada com referência ao termo, que
estaria nos impedindo de sermos nós mesmos. É como se “politicamente correto”
fosse um ser com vontade própria, um movimento, um sujeito dotado de
consciência. No mundo realmente existente, ele é apenas isto: um sintagma sem
referente, um balão de ensaio, uma cortina de fumaça, uma tutameia. Não
interessa às forças de esquerda perpetuar a confusão.



[http://www.revistaforum.com.br/2012/02/09/as-origens-da-expressao-politicamente-correto/]



TEXTO 2

10 vezes em que o politicamente correto
passou de todos os limites em 2016

Se você nunca viu
pessoalmente, certamente já ouviu falar pelo menos alguma vez a respeito.
Eles entopem as redes sociais diariamente com um vocabulário padronizado,
repetindo lugares comuns e clichês anti-científicos, preocupados com
microagressões, lugares de fala e discussões pseudosociológicas, com uma alta
carga de imposição de sugestionabilidade às suas ideias e um senso de
superioridade moral irrefreável. Sim, estou falando dos internacionalmente
conhecidos social justice warriors (SJW), que aqui no Brasil
você provavelmente conhece como guerreiros da justiça social.

Atuando com uma
perspectiva caricata do progressismo, de forma destemperada e imatura, os
justiceiros sociais constantemente ridicularizam discussões sérias
sobre problemas reais – como o racismo, o machismo e a homofobia – ao
transformá-las em discussões rasteiras, com um puritanismo histriônico e apelos
emocionais sem qualquer razoabilidade. Ao exagerar, incapazes de acolher
qualquer crítica e preparados para apontar o dedo à mínima possibilidade
de oposição, mais afastam do que aproximam as pessoas das pautas que julgam
defender, não raramente servindo de palanque para políticos com bandeiras
absolutamente opostas, transformando debates importantes em meros
problemas de classe média – e criando conceitos esdrúxulos de livre expressão,
categorizando quem pode falar a respeito do quê. 

O efeito imediato? A
criação de um constante clima policialesco politicamente correto que invade
diferentes áreas da atividade humana, fazendo com que tudo seja encarado de
forma entediantemente ofensiva. Quer alguns exemplos? Fiz uma lista
de situações em que o politicamente correto passou dos limites nos últimos
meses. Tem outros exemplos pra lembrar? Seu lugar de fala está garantido na
seção de comentários logo abaixo.

1. O vilão que só pode
agredir personagens masculinos.

Eu poderia apostar que
você leu essa notícia recentemente. Nem Apocalipse, um dos maiores
vilões da história das histórias em quadrinho, com mais de cinco mil
anos de idade, que já foi considerado deus por muitas civilizações, possui uma
ampla gama de poderes, é imortal, um dos seres mais inteligentes do universo,
já derrotou o Conde Drácula (duas vezes!) e é uma das figuras mais temidas do
universo Marvel, conseguiu escapar das garras do politicamente correto. E tudo
isso por conta de um cartaz onde o vilão asfixiava a personagem Mística,
interpretada por Jennifer Lawrence, no último filme da franquia “X-Men”.

O burburinho começou
pelas redes sociais. E então se potencializou quando a atriz Rose McGowan decidiu criticar a produção:

“F***-se essa merda. Há
um imenso problema quando as pessoas da 20th Century Fox acham que violência
contra mulher é a melhor forma de divulgar um filme.”

Pois
é. Toda maldade de uma das figuras mais vilanescas da série virou uma
mera questão de machismo. E o que a Fox, a responsável pelo filme, fez? Pediu desculpas, claro.

“Em nosso entusiasmo para
mostrar a maldade do personagem Apocalipse, não percebemos de imediato a
conotação perturbadora desta imagem”, disse o estúdio num comunicado
divulgado nos Estados Unidos. “Assim que percebemos o quão indelicada ela era,
rapidamente tomamos medidas para remover todo o material. Pedimos desculpas
pelas nossas ações e nunca apoiaríamos a violência contra as mulheres.”

Apocalipse atravessou
cinco mil anos de história para ser finalmente derrotado pelos justiceiros
sociais.
[http://spotniks.com/10-vezes-em-que-o-politicamente-correto-passou-de-todos-os-limites-em-2016/]


TEXTO
3

“Num
país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até
compreensível”, disse. “O Estado é omisso, a polícia desmoralizada, a Justiça é
falha… O que resta ao cidadão de bem, que ainda por cima foi desarmado? Se
defender, é claro”. Ela ainda completou: “O contra-ataque aos bandidos é o que
chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado
de violência sem limite.”

[http://vejasp.abril.com.br/blog/pop/rachel-sheherazade-do-sbt-defende-grupo-que-amarrou-homem-nu-em-poste-e-provoca-polemica/]



TEXTO 4

A Procuradoria Regional
dos Direitos do Cidadão entrou com uma ação contra a emissora por causa de
declarações da âncora logo após a exibição de uma reportagem.

As declarações viraram
alvo do Ministério Público, que considerou impróprio o uso de uma emissora de
TV para propagar a violência e a ofensa do direito de defesa do cidadão. O MP
considerou que a veiculação dos comentários violou o princípio da dignidade da
pessoa humana e direitos da criança e do adolescente, além de estimular a
tortura e a justiça com as próprias mãos.

O comentário gerou
revolta em algumas pessoas, mas Sheherazade também recebeu o apoio de muita gente
na época, que considera correta a atitude da população de acorrentar e bater em
um suposto assaltante.

O juiz alegou na sentença
que “embora em regra o exercício dos direitos fundamentais tenha limites
jurídicos (incluindo a liberdade jornalística), o sistema jurídico assegura o
direito de manifestação dos intolerantes e, com isso, exige dos demais o dever
de tolerância com os intolerantes”.
[http://caririemacao.com/1/?p=4943]








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