FUVEST - Tema: a tolerância em uma época em que o ódio é anônimo e notório.



TEXTO 1. Sobre o massacre de Suzano, Columbine e Realengo
(1) Um dos assassinos de Columbine, Eric Harris, deixou um diário para ser divulgado depois do massacre. Nele, Harris antecipa que o tratarão como louco e que culparão videogames violentos. Para evitar esse tipo de narrativa, ele repete várias vezes que está consciente, que o assassinato foi uma escolha e que todas as mulheres, gays, negros e latinos merecem morrer. Além disso, exalta uma suposta “superioridade” do homem branco - em nenhum momento fala sobre bullying;
(2) Os massacres de Suzano e de Realengo seguem exatamente a mesma linha: foram crimes de ódio. A diferença é que em 1999 isso ficava registrado em um diário e em 2019 em fóruns de discussão. Outro traço semelhante é que a imprensa dá o que os assassinos queriam: notoriedade. Sabe-se muito sobre eles e quase nada sobre as vítimas;
(3) Apesar de todas as evidências de um crime de ódio, a imprensa fala de bullying e de videogame. Já a esquerda, fala da sanha armamentista e da influência da extrema direita. Esses são elementos que podem ter influenciado na construção de uma masculinidade tóxica, mas não são o elemento principal. É preciso falar também de misoginia, de racismo e de homofobia. Discussão que se evitou até mesmo em Realengo, quando o assassino matou só meninas. - Daniela Lima, mestre pela Universidade Federal Fluminense – UFF, março de 2019.
TEXTO 2.
“Faz pouco tempo que eu descobri o que eram os grupos masculinistas e o que eles defendem.
Em 2014 houve uma movimentação enorme nas redes sociais porque queriam trazer para o Brasil um homem chamado Julien Blanc.
Julien Blanc é um suíço que, depois de ser rejeitado na adolescência, decidiu "investir na arte da conquista" e hoje se vende como "especialista em sedução", mas o que ele ensina basicamente é como estuprar mulheres. Como agarrá-las a força, como despistar quando fizer isso, como usar a violência contra elas sem deixar grandes indícios, como ganhar a confiança de uma mulher para depois abusar dela.
Esses ensinamentos bizarros fizeram ele ser expulso da Austrália e ser impedido de ingressar no Reino Unido, Canadá, Japão e, depois de muito barulho e muito protesto, no Brasil.
Bom, Julien Blanc é um ídolo para muitos homens que fazem parte do movimento masculinista, um movimento assustador que se move, basicamente, em fóruns anônimos (os chans) que, quando descobertos, migram para outros lugares - o movimento recente foi de migração desses fóruns para a dark web.
Os maculinistas são, em resumo, homens com algum histórico de rejeição, que odeiam todas as mulheres e todos aqueles que entendem que fazem parte desse mundo que os rejeita. Destilam ódio contra minorias em geral, destilam ódio a homens que entendem serem submissos às mulheres, e falam de matar e morrer o tempo todo, ato que é incentivado constantemente pelos demais membros.
Nesses chans também rolam crimes de racismo e pedofilia com uma certa frequência.
Mulheres são chamadas por eles de "depósito de esperma" e outros termos muito mais pesados.
Os homens que decidem se matar não apenas são incentivados como recebem mensagens de "faça isso e leve a escória com você, vá como um herói". Especialmente no grupo chamado Sanctvs, o mais radical entre eles.
Boa parte da estratégia desses homens vem de criar terror, fazer doxxing e ameaçar pessoas que são objeto do seu ódio. Comparado ao volume do barulho que fazem nas redes, os atos que vão para o mundo offline são poucos, mas sempre muito trágicos.
Os casos mais recentes que são apontados como vinculados a esses fóruns são o massacre do Realengo, o rapaz em Penápolis que atirou em uma mulher pelas costas numa praça e logo depois se matou e agora o caso de Suzano. Casos em que foram encontrados nesses fóruns manifestações de que fariam os ataques e pedidos de ajuda de como fazer.
Também há uma dificuldade de saber quando o responsável era efetivamente do grupo ou não, já que eles gostam de sempre afirmar que era. O autor do massacre do Realengo é um grande ídolo deles, por exemplo.
Numa lógica bastante comum ao terrorismo, há um certo orgulho em assumir a autoria do atentado. Neste caso recente de Suzano já existem comentários dizendo que são os primeiros "heróis" formados pelo chan.” - Paula Bernadinelli, advogada, março de 2019.



TEXTO 3.
“O portal de notícias R7 confirmou a informação de que Guilherme e Luiz eram frequentadores do Dogolachan, fórum que só é acessível na darknet. Segundo a reportagem, os jovens recorreram ao fórum para pedir dicas de como executar o atentado na escola. No dia 7 de março, um dos atiradores supostamente publicou um agradecimento ao administrador do fórum, conhecido como DPR. "Muito obrigado pelos conselhos e orientações, DPR. Esperamos do fundo dos nossos corações não cometer esse ato em vão", diz parte da mensagem.” 
TEXTO 4.
“Eles realmente acreditam. Eles são neonazistas. Eles realmente acreditam que a mulher não deve trabalhar. Que as vagas de trabalho devem ser deles apenas. (...) Eles acreditam que as mulheres devem ser estupradas. Eles acreditam que meninas de 10 anos devem ser iniciadas sexualmente pelos pais, pois assim elas iriam se tornar mulheres de bem. Eles encorajam a pedofilia. Eles realmente acreditam nisso.” – Lola Aronovich, feminista, professora da UFC, em entrevista à Revista Fórum.
Fonte: http://escrevalolaescreva.blogspot.com/



Texto escrito por um dos assassinos, da E. E Raul Brasil em Suzano,  no  “Chan”, março de 2019, dias antes do atentado.

TEXTO 5.  “Ao afirmar que nunca será vista pronunciando o nome do homem que matou a tiros ao menos 50 pessoas em duas mesquitas da Nova Zelândia na última sexta (15), a primeira-ministra do país, Jacinda Ardern, disse que quer negar notoriedade ao assassino e jogar os holofotes nas vítimas e em seus familiares.

No fim, porém, foi Ardern quem acabou se tornando protagonista dessa história. Sua reação empática e serena ao maior ato terrorista já ocorrido no país tem sido elogiada por analistas políticos, pela imprensa e nas redes sociais dentro e fora da Nova Zelândia.”

- Primeira-ministra da Nova Zelândia vira símbolo de empatia por reação a massacre. FOLHA de S. Paulo, 20 de março de 2019.

TEXTO 6.
"A primeira lei da natureza é a tolerância - já que temos uma porção de erros e fraquezas".



Depois de ler os textos acima, escreva uma dissertação argumentativa sobre a tolerância em uma época que o ódio é anônimo e notório.

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