Ler pode ser importante


Fabiano gostaria de ter lido mais, pois talvez sentisse que seria menos oprimido. Em Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, aquele homem, de poucas palavras, sabe da importância da leitura, gostaria de ter lido mais para que a vida fosse menos sépia, amarela. Contudo, ler nem sempre é importante, não são todos os sertanejos que estão interessados.

O homem ocidental sabe a importância da cultura, estudou ela, tanto que existem diversos especialistas que entenderam as vicissitudes da natureza humana. Por isso, seria sensato imaginar que esses cientistas sociais apontariam que ler é importante, move montanhas, aponta caminhos, cura opressões e apresenta Machado´s. No entanto, para Fabiano, vítima da indústria da seca, do coronel, nem se soubesse entender as palavras escritas se salvaria. A intolerância humana cria fronteiras que nem a leitura salva. Não salvou Ghandi, quem dirá Fabiano.

Pero Vaz de Caminha era letrado. Escreveu uma das principais páginas da história daquele lugar que se chamaria Brasil: escreveu a carta do "descobrimento". Se conhecesse um pouco das civilizações, daquelas que estão fora dos livros, dos manuais, saberia que a cultura é heterogênea. Talvez seria apresentado, e entenderia os índios de outra forma, não como não civilizados, e sim como gente. Se pudesse ter vivido mais 500 anos, notaria que existem outras vidas, outras necessidades que são tão importantes quanto ler um bom livro.

Ler também cria legados. Uma menina judia chamada Anne Frank, por ser letrada, conseguiu documentar em seu diário o horror da guerra, o horror de um homem amarelo que se achava branco demais, Adolf. Não fez uma análise antropológica, apenas emitiu em palavras a opressão que a cercava. Não sobreviveu, mas o legado do seu diário virou um dos maiores best sellers do mundo e uma dádiva aos leitores, que por meio da leitura, puderam compreender suas palavras de modo a tentar transformar o mundo em um lugar mais tolerante.

O mundo que nos cerca nos leva a pensar que devemos ler bastante, não queremos nos tornar Fabianos. Todavia, não há garantias que o sorriso amarelo de outros sertanejos só fosse possível com a leitura. Ela matou grandes heróis.







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