Violência: um olhar "epidêmico"


O paulistano respira violência, vive violência; principalmente aquela dos jornais, dos noticiários. Como se sentir ileso quando a Rachel Scheherazade diz que só sai de carro blindado? Aos 32 anos, sinto o peso da cultura do medo, sei que você também sente isso.

Infelizmente, tornou-se comum ouvir dizer que algum amigo já foi assaltado. Eu já fui, uma vez. Sentimento terrível, uma mistura de desespero e alegria em saber que sobreviveu, que está vivo. Nunca mais quero sentir isso. Devo ter sorte por ter sido apenas uma vez em 32 anos, principalmente pelo fato de que a imprensa nos vende a ideia de que as chances disso acontecer são cotidianas, diárias. Isso vende muito jornal, chama a atenção da gente, nos oprime e cria marcas.

Ouro Preto, cidade turística linda, cheia de paisagens e de lugares para visitar. Quando estive lá, fiquei em um hostel "afastado" do centro, cinco minutos a pé. Como um bom viajante, desencanei, resolvi viver a experiência plenamente, sem preocupações. A noite gostava de ir em um bar onde vende uma coxinha de galinha muito boa, recomendo. Além disso, nesse mesmo local, havia cerveja barata. Não é a toa que o lugar é indicado a universitários (há uma federal lá), e a degustadores do bom e velho boteco. Contudo, no primeiro dia saí de lá as 2h da manhã e me deparei com o "outro quarteirão", fora da rua principal, caminho de volta ao Hostel malander, barato. Maldito lugar, cheirava a medo. Tinha certeza que alguma alma penada iria sair do meio dos casarões coloniais e invadir minha alma, roubar meus pertences. Cinco dias depois, 2 kg de coxinha a mais, 30 litros de cerveja a mais e nada, nenhum perigo aparente. Coisa de paulistano medroso, obrigado Datena.

Mesmo assim, a violência não deixa de ser epidêmica. Ela está e esteve presente na história do homem. A construção do Estado passou por isso. Revolução Neolítica, servidão, "castas"; Antiguidade Clássica, sociedade censitária, "democrática" e republicana (para os 10% dos verdadeiros cidadãos - gregos, nascidos no Mundo Grego e adultos; romanos patrícios com renda, garantia de direitos); Idade Média e a opressão cultural estamental; Absolutismo e o novo contrato social "hobbessiniano"; Revoluções burguesas e a exclusão social dos oprimidos de sempre; Dias atuais. Caramba, quanta coisa poderia ser esclarecida com o mundo da informação! Só que não. Os jornais continuam fazendo o serviço de sempre, produzindo notícias a favor do medo, a favor da casta e da pirâmide social.

Bem vindo a bolha. Bem vindo ao carro blindado. Seja um paulistano medroso e adequado ao "verdadeiro" retrato social. Recomendo o bar das coxinhas, de galinha.


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