Pós-Capitalismo ou Neo-escravismo?


Pós-Capitalismo ou Neo-escravismo?

No século XIX as jornadas de trabalho exploratório eram de até 20 horas/dia, no Século XX, trabalhar 8horas/dia foi uma conquista histórica tão marcante que países desenvolvidos, como a Suécia e seu Volvismo - sistema de produção baseado na qualidade de vida e dos produtos Volvo - pôs em prática jornadas ainda menores. Porém, no Século XXI, no Brasil do Governo Temer promulga-se por Medida Provisória um retrocesso, não de três décadas, mas, de três séculos: flexibilização de jornadas até 12horas. É um bizarro retrocesso. Fruto típico do pensamento mesquinho das elites financeiras do país. É a Casa Grande mostrando seu jeito de governar: presa ao século XVIII.

Domenico De Masi, intelectual italiano, aponta um dado relevante sobre o trabalho na Europa. No século XIX, 94% do trabalho no Velho Continente era Manual - berço da Industrialização. Já no Século XXI, 70% do trabalho na Europa é Intelectual. Ou seja, houve uma inversão drástica no modo de viver capitalista. O que podemos concluir é que a Europa hoje vive o Pós-Capitalismo.

O Pós-Capitalismo não é nenhuma palavra da moda, ou palavra do ano do Dicionário Oxford de 2016, mas um conceito que estudo e replico há mais de 10 anos, não como negação do Capitalismo, mas como sua Transição. Já que Capitalismo é o radical do conceito com prefixo Pós. O Capitalismo não acaba, ele se trasmuta. A Europa está em transição desde a década 80. As jornadas cada vez menores, pra gerar mais emprego. E o desemprego de trabalhadores manuais cada vez mais maiores, na Espanha está em 22% desde 2005. O que houve? Uma mudança, não acompanhada, de paradigma. O Capitalismo mudou, mas seus financiadores estão mais gananciosos: o trabalho manual migrou pros países emergentes, pros Brics, pros Tigres Asiáticos, pra América Latina.

A América de veias abertas, a Latina, é explorada em muito pelos do Norte. O Brasil ainda mais. O Brasil de Moro, FHC e de Dilma e Lula, estes dois últimos em proporções menores, hoje, nas mãos do impopular e medíocre Michel Miguel Temer, cogita aumentar a jornada de trabalho em 12horas. Um descalabro pra um mundo que pensa e vive já o Pós-Capitalismo.

A Petrobrás em 2012 era a 4° Companhia mais rentável do mundo. Em 2010 descobriu o Pré-Sal. Em 2016 vende suas fontes pra Europeus. Forçada por dois motivos: 1) ataque midiático afrontoso para que a opinião pública não reclame e nem saiba que foi roubada; 2) é típico de países colonizados permanecerem colônias se não tiverem um povo consciente de sua História de explorado. A projeção é que em 2017 a Petrobrás bata recordes de extração de petróleo e lucros. Como já vinha tendo, sem os ataques midiáticos. E seguirá tendo. Pena que sem ser símbolo de nossa soberania nacional, mas agora como símbolo cada vez mais do fajuto neo-liberalismo.

Há nisso tudo algo pior: A Casa Grande do Brasil, que é a Igreja, a Maçonaria, o Pensamento Militar e a Grande Mídia são o maior câncer brasileiro. Um linfoma perverso. 
Em dados, Thomas Piketty, autor do best-seller de 2014, não conseguiu incluir o Brasil em seus estudos e livro. Porém, em 2015 e 2016 iniciou pesquisa com os novos dados da Receita revelados. A concentração de renda no Brasil é um das maiores do mundo. A Casa Grande é mais dominadora que se imaginava. O pensamento militar, fascista, religioso servil, e político corruptor é mais enraizado que se imaginava. E a conclusão dos estudos de Piketty sobre o Brasil são claros:


"Quanto mais concentração de renda, mais fraca fica a economia, com menos investimentos e consumo, e mais fraca fica a democracia, com menos gente possuindo excessivo poder financeiro, o que possibilita uma maior interferência dessa pequena parcela da população nas decisões políticas do país."

Enquanto a Europa mergulha em um Pós-Capitalismo, no Brasil de Temer, mergulhamos na preparação do Neo-escravismo que a Casa Grande manipula com a ajuda da Grande Mídia.

Neste Natal, desejo muitas conversas boas, sempre o diálogo abre mais portas que a indiferença. E se puderem, deem de presente livros de História pros parentes que ainda assistem Globo.

Tenho três dicas:
"Ócio Criativo" - Domenico De Masi. 
"Veias abertas da América Latina" - Eduardo Galeano. 
"O Capital no Século XXI" - Thomas Piketty.


Feliz Natal! 
Esta é sempre uma boa época pra nascer um pensador ou florescer uma pensadora coletivista e aberta aos diálogos!



[Fabrício Oliveira, 38, é Doutor em Linguística e Filosofia da Linguagem pela Universidade Federal de São Carlos, com a tese intitulada "Da Saúde à Qualidade de Vida - Por um Humanismo Ético bakhtiniano". (Março de 2015). De 2011-2016 foi Coordenador de Redação do Curso Poliedro São Paulo. Hoje, Professor do IFSP, colaborador do Redação e Dialogia e do Roda de Cidadania.] 

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