Um Golpe Sem Comando e o Sujeito Histórico.


Um Golpe Sem Comando e o Sujeito Histórico.

Penso em um tabuleiro de xadrez. Com seu charme barroco e sofisticado jogo de contrastes, tal qual como desenha Angel Rama em seu clássico "A Cidade das Letras".

Na linha de frente: os Peões são o povo, o setor de trabalhadores, a classe média em todas as suas novas matizes (A, B, C, D e E).

Na linha da retaguarda os rentistas econômicos de um jogo de golpes: as Torres representam o Poder Administrativo, Executivo, Legislativo, Judiciário; os Cavalos são o Poder Militar (aquele de treinamento militar que insiste em dizer que o Outro é o Inimigo. E ponto.); os Bispos são o Poder Ideológico religioso - católico, bíblico, evangélico.

Contudo, neste tabuleiro o Rei está nu (seja ele Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro, Doria, Ciro, Cármen Lúcia, FHC, Nelson Jobim) e a peça mais poderosa do tabuleiro é a Rainha. É ela que devora em todas as direções, mas só não faz o movimento do Cavalo, o movimento militar.

Mas quem é essa Rainha que tudo devora e é tão poderosa?
A Rainha é o Quarto Poder - a Mídia.

Porém, na última semana a Grande Mídia brasileira está em crise interna. A Globo contradiz a FOLHA e o Estadão. A primeira abandonou o barco do governo Temer, enquanto as últimas abraçam ainda o capitão do navio naufrago. O dilema é intenso. A Rainha traiu o Rei. E a culpa vem à galope, por terra. Ou o barco afunda, ou os sobreviventes serão presos assim que aterrarem.

A Globo, parte da consciência da Rainha, quer Eleições Indiretas. Quer Cármen Lúcia, Jobim ou FHC.

A Folha, outra parte da consciência que reina, quer a manutenção do Golpe para se fazer o que veio fazer: neoliberalismo sem povo.

Entretanto uma coisa é certa: a Rainha quer a manutenção do Poder - o Status Quo -, quer que as Reformas, que favorecem a retomada de suas peças rentistas ao tabuleiro, sejam votadas sem o povo.

Posto os olhos sobre o Tabuleiro, noto que o contraste entre o preto e o branco é apenas parte do cenário bipolarizado, ou seja, o que vemos na realidade é um Golpe que saiu do Comando da Rainha; e não está nas mãos do Rei nu; muito menos está guardado nas Torres em demolição; nem está no Cavalo, pois ele não marcha sem cavaleiros.

Diante de um Golpe sem Comando, a única salutar saída são as "Diretas Já". É a mais difícil saída. Mas é a única.

É preciso, portanto, saber que peças são peças, mas a mão que as move no tabuleiro não é de Deus, mas a do sujeito que sabe que é Histórico (Karl Marx).


[Fabrício Oliveira, Doutor em Linguística e Filosofia da Linguagem]

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