TEMA UNICAMP: Artigo de Opinião sobre o SUS e o programa MAIS MÉDICOS





UNICAMP - Considere a seguinte situação: uma postagem recente
em uma rede social de uma mensagem de ódio contra o Programa MAIS MÉDICOS foi
foco de intensa discussão. Dada a repercussão do caso, o jornal de maior
circulação de sua cidade resolveu fazer um caderno especial sobre o tema “SUS –
SISTEMA ÚNICO de SAÚDE”. Leitores de diferentes perfis foram convidados a se
manifestar e você foi o estudante escolhido. Para atender a esse convite, você
deverá escrever um artigo de opinião em que discutirá a seguinte questão: “O
SUS é um sistema público que deve ser defendido?” No seu artigo de opinião,
você deve: a) identificar e explicitar os dois principais posicionamentos sobre
a questão tratada; b) assumir um desses dois posicionamentos e sustentá-lo com
argumentos. Seu texto deverá considerar as seguintes reportagens abaixo e o
documentário SICKO – SOS Saúde, de Michael Moore (2007):


TEXTO 1.
Conheça melhor o programa Mais
Médicos:
1. O número de médicos na atenção
básica à população na rede pública do País foi ampliado em 36%: tinha cerca de
40 mil antes do programa e ganhou 14.462 profissionais,
entre eles 11.429 cubanos e 1.187 com diplomas de outros países.

A lei priorizou os brasileiros,
mas apenas 1.846 se inscreveram na primeira convocatória. Este ano, a situação
se inverteu e 95% das 4.146 vagas foram ocupadas por médicos brasileiros.

UPDATE: o Ministério da Saúde
informou que o número atualizado é de 18.240 médicos no programa.

2. Além de serem reconhecidos
como excelentes médicos de saúde da família, a principal vantagem dos médicos vindos
de Cuba, segundo a OPAS, é que vieram todos de uma vez, em um pacote. Outra
vantagem é que qualquer abandono que não seja por razões de saúde é coberto
pelo governo cubano, que envia outro profissional
sem nenhum custo adicional para o governo brasileiro. A OMS situa o sistema de
saúde cubano entre os 39 melhores do mundo; o sistema de saúde brasileiro
aparece na 125ª posição. Ao contrário dos brasileiros e profissionais de outros países, os cubanos também não escolhem
para onde querem ir, é o ministério e a OPAS que decidem para onde serão
designados.

3. Os médicos cubanos ganham
R$3mil por mês; os outros R$7 mil do salário previsto no acordo vão para o
governo de Cuba. Ainda assim, o pagamento que recebem no Brasil é 20 vezes
superior ao que receberiam em sua ilha natal. Além disso, os municípios arcam
com todas as despesas: transporte, moradia e alimentação. Ou seja, o cubano praticamente
não gasta o dinheiro que recebe.

4. Uma avaliação independente
feita em 1.837 municípios revelou um aumento de 33% na média mensal de
consultas e 32% de aumento em visitas domiciliares; 89% dos pacientes
reportaram uma redução no tempo de espera para as consultas. Uma pesquisa feita
em 2014 pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), baseada em 4 mil entrevistas
em 699 municípios, revelou que 95% dos usuários estão satisfeitos ou muito
satisfeitos com o desempenho dos médicos. 86% dos entrevistados afirmaram que a qualidade da atenção melhorou após a chegada dos
profissionais do Mais Médicos e 60%
destacaram a presença constante do médico e o cumprimento da carga horária.
Queridos por seus pacientes,
vários médicos cubanos têm sido homenageados pelas câmaras municipais por seu trabalho
no Brasil.

5. O programa cobre 3.785
municípios, sendo que 400 deles nunca haviam tido médicos. Os 34 distritos
indígenas contam hoje com 300 médicos; antes não tinham nenhum. Entre os
yanomami, por exemplo, houve um aumento de 490 atendimentos em 2013 para 7 mil
em 2014, com 15 médicos cubanos dedicados à etnia com exclusividade. 99% dos
médicos que atendem os índios no programa são cubanos.

6. Um dos trabalhos mais
interessantes desenvolvidos pelos médicos cubanos nas aldeias indígenas é o
resgate da Medicina Tradicional, com o uso de plantas. Na aldeia Kumenê, no
Oiapoque (AP), o médico Javier Lopez Salazar, pós-graduado em Medicina
Tradicional, atua para recuperar a sabedoria local na utilização de plantas e
ervas medicinais, perdida por causa da influência
evangélica. O médico estimulou os indígenas a buscar as canoas defeituosas e
abandonadas nas beiras dos rios
para transformá-las em canteiros de uma horta comunitária só com ervas medicinais,
identificadas com placas e instruções para uso.

7. Ao contrário do que os jornais
veiculam, os médicos e médicas cubanos não são proibidos de se casar com brasileiros.
Existe uma cláusula que os obriga a comunicar os casamentos para evitar bigamia
em seu país natal, segundo a OPAS. Os casos de romances entre médicos/as e
brasileiros/as são numerosos. Houve até uma prefeita em Chorrochó, na Bahia,
que se casou com um médico cubano.

8. Desde que o programa Mais
Médicos começou, 9 médicos cubanos morreram: cinco por enfarto, 3 por câncer e
1 por suicídio (em 2014, um médico de 52 anos, ainda em treinamento, foi
encontrado morto em um hotel de Brasília, possivelmente por enforcamento). Até
agora, somente oito abandonaram o programa e deixaram o país rumo aos EUA.

9. O programa Mais Médicos virou
modelo no continente e países como a Bolívia, o Paraguai, o Suriname e o Chile,
que também sofrem com falta de profissionais,
já planejam fazer projetos semelhantes.

10. Além do atendimento de saúde,
o Mais Médicos inclui a ampliação da oferta na graduação e na residência médica
e a reorientação da formação e integração da carreira. A meta é criar, até
2018, 11,5 mil novas vagas de graduação em medicina e 12,4 mil de residência
médica, em áreas prioritárias para o SUS. Os municípios onde serão instalados
os novos cursos de medicina foram escolhidos de acordo com a necessidade
social, ou seja, lugares com carência de médicos.



TEXTO 2.
O presidente do Hospital
Israelita Albert Einstein afirma que a iniciativa do governo federal ajudará
uma população que sofre, sem saber, de males como diabetes e hipertensão
por Mônica Tarantino.  Edição 06.11.2013 - nº 2294

EVIDÊNCIAS


Para aumentar a qualidade do atendimento, Lottenberg defende a adoção

de modelos de tratamentos certificados por diversos estudos científicos
 
O desperdício de recursos, seja
tempo, seja dinheiro ou tecnologia, está entre as poucas coisas que
realmente irritam o oftalmologista Claudio Lottenberg, 53 anos. Há 11 anos à
frente do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo – considerado o
melhor da América Latina –, ele é responsável por sua expansão e pelas
parcerias firmadas com o setor público. Desde 2008, por exemplo, a instituição
assumiu a gestão do hospital municipal Moysés Deutsch, na zona sul
paulistana. Lottenberg une a experiência de gestor privado e público com a
de médico para fazer diagnósticos da saúde brasileira. A princípio crítico
do Programa Mais Médicos, ele agora combate o radicalismo contra a iniciativa.
“O programa trará benefícios inegáveis em locais onde não havia ninguém. Mas é
uma medida compensatória”, afirma. “Precisamos agora de medidas que estruturem
o sistema de saúde para conter a elevação dos custos e qualificar o
capital humano.” Lottenberg concedeu esta entrevista logo após sua chegada de
uma viagem a Israel. Enquanto respondia às perguntas, fez a barba, tomou chá,
pediu uma pausa para trocar a camiseta branca por uma camisa azul-clara, bem
passada e ligeiramente folgada, checou o celular e ajustou a gravata para a
foto, tudo isso sem perder o fio da meada nem sequer por um segundo.


"Os profissionais do Exterior não vão competir em São Paulo.

Eles estarão no interior do País, como no Acre, Estado onde

o governador não consegue intensivistas nem por R$ 25 mil”


“Uma nova tecnologia ou medicamento sempre

agregam custo, mas não trazem necessariamente valor"

ISTOÉ – O que acha do
Programa Mais Médicos? 
Claudio Lottenberg – É um
programa que nasce como uma iniciativa de curto prazo, voltado para suprir carências.
A presença dos médicos em localidades onde não havia ninguém para atender a
população trará bons resultados. Eles irão dar assistência
a pessoas que sofrem, sem saber, de males como pressão alta e diabetes.
Isso não demanda alta tecnologia, mas um médico bem preparado. Outro acerto é o
fato de a sociedade se mobilizar em torno do reconhecimento de que a falta de
médicos e sua má distribuição são um problema. 

ISTOÉ – Como considera a
reação negativa de boa parte dos médicos brasileiros? 
Claudio Lottenberg – Questiono-me
se nós médicos não temos sido excessivamente reativos ao programa.
Os profissionais do Exterior não vão competir em São Paulo. Eles
estarão no interior do País, como no Acre, Estado onde o governador Tião Viana
disse não conseguir médicos intensivistas nem por R$ 25 mil. Não se pode lidar
com um problema dessa magnitude na base do contra ou do a favor. É
uma questão de saúde pública que tem inúmeros desdobramentos sociais. 

ISTOÉ – Um dos argumentos
contrários é o de que o programa não apresenta uma solução definitiva para a
saúde. 
Claudio Lottenberg – Realmente,
o que não pode acontecer é que o problema se torne perene, sem mudanças, sem
que haja uma maior sinergia com as lideranças médicas do País, sem criatividade
na formação do capital humano, incentivos para a mobilidade e nem um plano de
carreira. Fundamentalmente, o programa é uma política compensatória, que
não terá efeito de estruturação do sistema de saúde. Mas ele trará benefícios
inegáveis onde antes não havia ninguém para atender a população. 

ISTOÉ – Os médicos também
reclamaram que, da forma como a iniciativa foi divulgada, pareceu que a culpa
pelas deficiências no atendimento era somente da classe. 
Claudio Lottenberg – O
assunto propiciou entendimentos equivocados que precisam ser administrados.
Não se pode responsabilizar os médicos pela carência da assistência em
localidades mais distantes ou pelo fracasso de um sistema de saúde. Boa parte
da população está com essa impressão, que não é real. É preciso entender que o médico
é um ser humano a quem está sendo ofertada uma oportunidade
profissional que tem prós e contras, e que ele tem necessidades que transcendem
a atividade de trabalho, como todos. O médico tem filhos na escola,
família. 

ISTOÉ – Pode dar exemplos
do que considera políticas capazes de estruturar a saúde brasileira?  
Claudio Lottenberg – Diante
do fato de que saúde não tem preço, mas tem custo, é necessário adotar
ferramentas de gestão para administrar corretamente. Se isso não for feito, ele
se tornará insustentável. A área da saúde registra índices
inflacionários muito maiores do que os da economia em
geral. 

ISTOÉ – Quais fatores
influenciam a inflação no setor?  
Claudio Lottenberg – Os
mais importantes estão ligados à incorporação de novas tecnologias. Não se
pode fazer isso sem a perspectiva da economia em saúde.
Essa avaliação precisa ser feita, uma vez que uma nova
tecnologia ou medicamento sempre agregam custo, mas não trazem necessariamente
valor. Muitas vezes, vale incorporar novos métodos pela resolutividade que eles
possuem, mas isso tem que ser cuidadosamente ponderado. Nesse sentido, a
comunidade médica está diante do desafio de refletir sobre a sua realidade.
Será que não estamos concordando e nos submetendo às regras da indústria farmacêutica
e de equipamentos, sem perceber a extensão de seu impacto? Nos
Estados Unidos, cada vez que a agência reguladora FDA aprova um procedimento,
produto ou aparelho, está implícito que as fontes pagadoras deverão pagar por
ele. Isso gerou um déficit imenso. 

ISTOÉ – Quais critérios
devem ser usados para medir a eficiência de um serviço de saúde? 
Claudio Lottenberg – Sem
protocolos de tratamentos baseados em inúmeros estudos – o que gera evidências
clínicas de eficácia – e a padronização de medicamentos, não há como medir
resultados e, portanto, não há como melhorar. Parte disso pode acontecer com o
incentivo à participação mais direta do setor privado no atendimento à saúde
pública. 

ISTOÉ – Por quê? 
Claudio Lottenberg – A área
privada já está mais adaptada ao uso desses parâmetros.  

ISTOÉ – O sr. acaba de se
filiar ao Partido Republicano. Por que deseja trocar o sucesso à frente do
hospital pelos solavancos da vida política? 
Claudio Lottenberg – O fato
de me filiar a um partido não significa fazer trocas ou mudanças. Apenas me
habilitei a participar de um processo. Sou um gestor público e privado na
área da saúde e estou pronto para enfrentar desafios.  

ISTOÉ – Foi o ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, que encorajou sua filiação? 
Claudio Lottenberg – O
ministro Padilha me incentivou, mas não foi só ele. Tenho apoio da família, da
minha comunidade, do segmento da saúde, de líderes empresariais e do campo
político brasileiro. Esse sentimento de solidariedade tem sido muito
estimulante. 

ISTOÉ – O ex-vice-presidente
José Alencar foi do PR. O lugar dele está vago na política
brasileira?  
Claudio Lottenberg – Não me
sinto confortável em dizer se existe um vazio, mas Alencar marcou nossa
história. Gostava muito dele e o atendi como médico algumas vezes.  Era um
político habilidoso que tinha a virtude de ouvir todos os lados e de aproximar
as pessoas para que chegassem a acordos sobre questões delicadas. Foi um
edificador de aproximação de alas que até então pouco conversavam. Até que
fosse eleito, o País havia se esquecido da importância de um
vice-presidente. 

ISTOÉ – Que marcas da sua
gestão à frente do Einstein podem ser úteis para a saúde pública? 
Claudio Lottenberg – Foi na
minha administração que o hospital aumentou sua participação na saúde pública,
no compartilhamento de seus avanços em gestão e na criação de protocolos de
saúde. Tornei a instituição pelo menos duas vezes maior do que o nosso
principal concorrente sem perder o foco da qualidade. Criamos uma estrutura
diversificada de laboratórios e ambulatórios que agilizam o atendimento e temos
o maior e melhor serviço de transplante de fígado acessível aos usuários do
SUS. Fazemos em média 250 transplantes por ano e mantemos um amplo programa
filantrópico. 

ISTOÉ – Que mudanças terá
o currículo da faculdade de medicina a ser lançada pelo Einstein em 2015? 
Claudio Lottenberg – O papel
do médico está mudando e é necessário formar líderes. Quero uma escola de onde
saiam profissionais com noções de gestão em saúde e governança corporativa para
tomar decisões. Eles serão formados para o trabalho em equipe, operação de
estruturas e processos e para enxergar a necessidade dos
pacientes com a consciência de que o indivíduo à sua frente está inserido
em um contexto maior. Quero que o médico entenda que a saúde depende de
financiamento, acesso e humanismo. Medicina não consiste apenas em
tecnologia, mas é, antes disso, envolvimento e confiança. Investiremos R$
50 milhões na construção de um novo prédio.  

ISTOÉ – Já sabe quanto
custará a mensalidade? 
Claudio Lottenberg – Sei que
elas serão competitivas em comparação com as instituições privadas e adequadas
para a qualidade de ensino que desejamos. Haverá, porém, um sistema de
bolsas e incentivos para atrair os melhores alunos. Eu mesmo pude
estudar com bolsas de estudo.  

ISTOÉ – O que o levou a
Israel? 
Claudio Lottenberg – Sou
presidente da Confederação Israelita do Brasil e vice-presidente do
Congresso Mundial Judaico. Fui a um encontro dessa entidade. Ir a Israel me
remete às grandes questões humanistas e contemporâneas, como as negociações de
paz, e aos valores que me formaram. Estudei lá por um período e sempre me
impressiono com o sistema de saúde israelense, que é também universalizante,
proporcionalmente maior do que o brasileiro, dotado de muitos centros
de alta tecnologia com as portas abertas ao público, como o hospital de
Hadassa, criado antes mesmo do Estado de Israel.  

ISTOÉ – E o que trouxe
para o Brasil desta vez? 
Claudio Lottenberg – Desta
viagem, trouxe novas iniciativas para estudos em neurologia e
pesquisas em câncer e também o apoio do governo israelense para orientar ações
em saúde na Guiné-Bissau. O convite foi feito pelo jurista e político timorense
José Manuel Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz, por causa dos serviços prestados
pelo Einstein durante as catástrofes do Haiti e da tragédia de Santa Maria, por
exemplo. 




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