TEMA FUVEST e VUNESP - Uberização do Trabalho e Precarização das vidas.



Com base nos textos abaixo e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo argumentativo, empregando a norma- padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

UBERIZAÇÃO DO TRABALHO E PRECARIZAÇÃO DAS VIDAS. 



TEXTO 1.

“Eu recebo pouco, mas um outro colega ainda recebe menos. Então eu aceito piores condições de trabalho porque eu ainda tenho um emprego. Chega-se ao ponto em que eu vou ter que pagar para conseguir trabalhar.” – Teresa Moreira, pesquisadora portuguesa – documentário: “GIG – A uberização do trabalho” - 2019.

TEXTO 2.

“A explosão da cultura digital durante o Século XXI revigorou os mais importantes ideais emancipatórios, combalidos pela queda do muro de Berlim. As pessoas e as comunidades passariam a dispor dos meios técnicos que lhes permitiriam estabelecer comunicação direta umas com as outras. A informação, os bens e os serviços poderiam ser oferecidos de forma eficiente sem que as condições objetivas de sua produção estivessem nas mãos de grandes empresas. O mantra da teoria microeconômica segundo o qual eficiência supõe concentração de recursos parecia desmentido pela comunicação em rede e, mais ainda, pelo surgimento dos smartphones e de equipamentos como as impressoras em três dimensões e as máquinas de corte a laser. Dispositivos eletrônicos com um poder cada vez maior estavam nas mãos das pessoas e operavam em rede. (...) As bases materiais para a transição do reino da necessidade para o de liberdade pareciam asseguradas.

Não demorou muito para ficar claro que esta narrativa edificante subestimava a mais importante transformação do capitalismo do Século XXI: a emergência da empresa-plataforma. O aumento na capacidade de processar, coletar, armazenar e analisar dados foi de tal magnitude que seu custo, que era de onze dólares por gigabyte em 2000 caiu para US$ 0,02 em 2016. Esta foi uma das bases objetivas não só para que Google e Facebook estivessem entre as mais poderosas empresas do mundo, mas também para que um conjunto cada vez mais amplo de bens e serviços fossem oferecidos não mais por empresas ou conglomerados especializados, mas por plataformas que, a custo quase zero, tinham o poder de conectar imediatamente consumidores e varejistas, reduzindo os custos envolvidos em suas transações. (...)

A ideia de que se eu precisar de algo posso contar com a ajuda dos outros e que isso vai gerar sentimentos e práticas de reciprocidade acabou se convertendo na oferta generalizada de trabalhos mal pagos e sem qualquer segurança previdenciária. Num ambiente em
que os sindicatos estão cada vez mais fracos e os direitos trabalhistas sob aberta contestação, os resultados são devastadores. A utopia de que a relação peer to peer ampliaria o bem-estar, reduziria o desperdício e traria significado humano para as relações econômicas, tão fortemente cultivada pelo discurso do Vale do Silício, transformou-se no seu contrário, como mostra de forma documentada e inteligente Tom Slee. E o curioso é que a tão badalada sharing economy inclui gigantes digitais como Uber, Lyft e Task Rabit, mas nunca as cooperativas do sistema espanhol Mondragón, as inúmeras iniciativas de gestão comunitária de recursos ecossistêmicos comuns ou o que na América Latina se conhece como economia solidária.”

[Prefácio a Uberização: A Nova Onda do Trabalho Precarizado. Ricardo Abramovay]


TEXTO 3.

“Entre julho e setembro deste ano, a taxa de informalidade da população ocupada bateu recorde da série iniciada em 2012, chegando a 41,4% dos trabalhadores. Ou seja, a cada 10 trabalhadores, seis têm ocupação precarizada. Segundo a gerente, o número de brasileiros que trabalham como ambulantes informais vendendo alimentos foi um dos que mais aumentou nos últimos tempos. Entre o segundo trimestre de 2015 e o segundo trimestre de 2019, o número desses ambulantes cresceu 510% subindo de 78,4 mil para 478,3 mil pessoas.”


https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/30/economia/1572454880_959970.html?%3Fssm=fb_BR_CM&fbclid=IwAR0ACiODqrRH3XAXPHaFIxL_mxeMFjENZjy5aMtyB3cUJoESlVsQBn2EIkM


TEXTO 4.

Quantas vezes você comprou qualquer coisa na rua ou lhe limparam os vidros do carro enquanto aguardava em um semáforo?

Seja qual for sua resposta, a probabilidade de que tenha visto pessoas ganhando a vida nas ruas da América Latina é muito alta: o número de trabalhadores informais é gigantesco, nada menos que quase a metade da força trabalhadora da região ou 130 milhões de
pessoas. Pese a que a informalidade caiu significativamente (de 65% em 2000 para 47.7 % hoje), o cenário não deixa de ser preocupante.

Esta situação implica, além de uma menor arrecadação de impostos e uma trava para a produtividade dos países, que o grosso destes trabalhadores não contribuem com um sistema de pensões e estão desprotegidos, por exemplo, caso qualquer eventualidade médica aconteça.

A informalidade, segundo os especialistas, supõe uma trava para as economias latino-americanas, cuja produtividade é afetada pelo fenômeno.

A modo de comparação, nos países da Europa do Leste este grupo representa ao redor de 12% dos trabalhadores e na África Subsaariana, ao redor de 72%, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Quem são os trabalhadores informais?

Os especialistas coincidem em destacar dois grupos diferenciados: aqueles que, ao não encontrar empregos atrativos, optam por trabalhar por conta própria e decidem excluir-se dos benefícios do estado; e os que não conseguem conseguir um trabalho dentro do circuito da formalidade, majoritariamente por causa de seu nível de estudos. O denominador comum em ambos os casos costuma ser que trabalham em pequenas e médias empresas.

Dentro do primeiro grupo está Lydia, de Lima, que se dedica à venda de roupa por internet. “Meus rendimentos neste negócio não são muito altos, e se fizesse os processos formalmente não me compensaria”.

De fato, uma pesquisa do Banco Mundial revela que a maioria dos trabalhadores informais por conta própria escolheu esta opção voluntariamente, alegando necessidades individuais, geralmente em busca de flexibilidade e independência, tais como melhores horários de trabalho. Um fator determinante é também a percepção de que os benefícios do Estado são insuficientes. De todas formas, em média, um terço deles disseram que prefeririam um trabalho assalariado.

“A falta de flexibilidade associada aos empregos formais e o escasso valor atribuído aos serviços oferecidos pelo estado faz com que alguns trabalhadores optem pela informalidade”, explica Julián Messina, economista do Banco Mundial.

"(...) A uberização de nossas vidas, a precariedade de nossas relações de trabalho, a ilusão da informalidade como panaceia para o desemprego é uma realidade no mundo todo. As pessoas pensam "Ah, não quero patrão, eu mesmo serei meu patrão, serei colaborador". O patrão passa a ser um algoritmo, o controle passa a ser no celular. Dias de 14 horas de trabalho, sem folga." - Ruth de Aquino, A uberização de nossas vidas, adaptado.




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