FUVEST - uma redação comentada e um tema conceitual e marxista (político-econômico) como pede a FUVEST dos últimos anos.

A FUVEST vem pedindo temas bem CONCEITUAIS, que trabalham uma forma MARXISTA de ver o mundo, ou seja, que cobram do aluno uma visão crítica sobre a ECONOMIA, a POLÍTICA e os JOGOS SOCIAIS que afetam a MENTALIDADE e a ÉTICA CONTEMPORÂNEAS.

Veja os exemplos:
2011 - ALTRUÍSMO e PENSAMENTO A LONGO PRAZO
2012 - PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: indispensável ou superada?
2013 - A MENTALIDADE DO MUNDO pelo CONSUMISMO
2014 - As DECLARAÇÕES ANTI-ÉTICAS de TARO ASO sobre os VELHOS no JAPÃO 

São temas que partem de uma cobrança de visão de mundo que vá de encontro com o CAPITALISMO, O CONSUMISMO, O INDIVIDUALISMO, O NEOLIBERALISMO.

Por isso, vale muito a pena abstrair sobre o RELATIVISMO CONTEMPORÂNEO, lembrando que tivemos uma EXPOSIÇÃO de ESCHER este ano em São Paulo.
 



 Proposta de redação

A gravura acima, chamada “Relatividade”, é de autoria do artista holandês M. C. Escher. Ela combina, numa mesma imagem, várias maneiras de perceber o espaço. Na realidade, não se podem perceber ao mesmo tempo todas as possíveis visões de um acontecimento; é preciso, junto com o artista, fazer um esforço para imaginar outras perspectivas, ou as perspectivas dos outros. Recorrendo aos textos desta prova e à imagem, demonstre, em uma dissertação de 20 a 30 linhas, a necessidade de que todos compreendam perspectivas diferentes das suas próprias para se conviver melhor. Utilize o registro padrão da língua e estrutura argumentativa completa. Atribua um título ao seu texto.




Texto complementar:
Do bom uso do relativismo - Leonardo Boff

Hoje pela multimídia, imagens e gentes do mundo inteiro nos entram pelos telhados, portas e janelas e convivem conosco. É o efeito das redes globalizadas de comunicação. A primeira reação é de perplexidade que pode provocar duas atitudes: ou de interesse para melhor conhecer que implica abertura  e dialogo ou de distanciamento que pressupõe fechar o espírito e excluir. De todas as formas, surge uma percepção incontornável: nosso modo de ser não é o  único. Há gente que, sem deixar de ser  gente, é diferente. Quer dizer, nosso modo de ser, de habitar o mundo, de pensar, de valorar e de comer não é absoluto. Há mil outras formas diferentes de sermos humanos, desde a forma dos esquimós siberianos, passando pelos yanomamis do Brasil até chegarmos aos sofisticados moradores de Alfavilles onde se resguardam as elites opulentas e amedrontadas. O mesmo vale para com as diferenças de cultura, de língua, de religão, de ética e de lazer.

Deste fato surge, de imediato, o relativismo em dois sentidos: primeiro, importa relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto  a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-ai, goza de direito de existir e de co-existir; segundo, o relativo quer expressar o fato de que todos estão de alguma forma relacionados. Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros porque todos são portadores da mesma humanidade. Devemos alargar, pois, a compreensão do humano para além de nossa concretização. Somos uma geosociedade una, múltipla e diferente.

Todas estas manifestações humanas são portadoras de valor e de verdade. Mas é um valor e uma verdade relativos, vale dizer, relacionados uns aos outros, auto-implicados, sendo que nenhum deles, tomado em si, é absoluto.

Então não há verdade absoluta? Vale o every thing goes de alguns pós modernos? Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o vale tudo. Tudo vale na medida em que mantém  relação com os outros, respeitando-os em sua diferença. Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela. Todos, de alguma forma, participam da verdade. Mas podem crescer  para uma verdade mais plena, na medida em que mais e mais se abrem uns aos outros.

Bem dizia o poeta espanhol António Machado: ”Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a”. Se a buscarmos juntos, no dialogo e na cordialidade, então  mais e mais desaparece a minha verdade para dar lugar a Verdade comungada por todos.

A ilusão  do Ocidente é de imaginar  que a única janela que dá acesso à verdade, à religião verdadeira, à autêntica cultura e ao saber crítico é o seu modo  ver e de viver. As demais janelas apenas mostram paisagens distorcidas. Ele se condena a um fundamentalismo visceral que o fez, outrora, organizar massacres ao impôr a sua religião  e, hoje, guerras para forçar a democracia no Iraque e no Afeganistão.

Devemos fazer o bom uso do relativismo, inspirados na culinária. Há uma só culinária, a que prepara os alimentos humanos. Mas ela se concretiza em muitas formas, as várias cozinhas: a mineira, a nordestina, a japonesa, a chinesa, a mexicana  e outras.  Ninguém pode dizer que só uma é a verdadeira e gostosa e as outras não. Todas são gostosas do seu jeito e todas mostram a extraordinária versatilidade da arte culinária. Por que com a  verdade deveria ser diferente?



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EXEMPLO de REDAÇÃO ACIMA da MÉDIA 


Equilíbrio na Relatividade

Em Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, há 2 personagens totalmente opostas: Dom Quixote e Sancho Pança. O primeiro vive em um mundo onírico, enquanto o segundo é realista ao extremo. Ambos possuem pontos de vista relativos em determinadas situações. O mesmo ocorre com a humanidade, pois todos têm perspectivas diferentes e é necessário que todos consigam compreender e aceitar as diferenças de seus semelhantes, tal qual foi Dom Quixote e Sancho Pança. Porquanto, havendo um respeito mútuo, os indivíduos só tendem a crescer como seres humanos.


Encontramos aqui um primeiro parágrafo pleno. Tem contextualização, tese e, por roupagem, uma analogia, da qual o vestibulando usa para indicar claramente a tese no último período: "Porquanto, havendo um respeito mútuo, os indivíduos só tendem a crescer como seres humanos." Maior mérito do parágrafo: clareza, já que a linguagem não tem rebuscamento, apesar do rebuscamento ser encontrado no modo de pensar do aluno, ao fazer a analogia com as personagens da novela clássica espanhola.

O aluno, em geral, precisa de analogia,  desse tipo de Ilustração? 
Não. Pois mais vale ser claro, deixando a Tese evidente e contextualizada. O primeiro parágrafo cumpre isso.


A relatividade das perspectivas já é conhecida há bastante tempo pelos seres humanos. Na Idade Média, por exemplo, a Igreja pregava o geocentrismo, ao passo que Copérnico acreditava no heliocentrismo. Assim, enquanto algo não é comprovado, haverá sempre divergência de opiniões e isso é algo positivo, porque é da discussão dos pontos de vistas que se chegam às melhores soluções, como na Grécia em que o debate era um dos pilares da filosofia. O problema reside na não aceitação da opinião do outro, algo que também é obsoleto na humanidade, por exemplo, a própria Igreja, que perseguia aqueles que fossem contrários aos seus dogmas na Idade Média. Desse modo, tal perseguição causa a coibição do outro em expor os seus pensamentos, o que prejudica o debate e, por conseguinte, a tentativa de respostas.

O melhor parágrafo argumentativo do texto é este segundo, já que traz exemplos conhecidos e históricos, ainda mais por lê-los com os olhos atentos ao tema: "a necessidade de que todos compreendam perspectivas diferentes das suas próprias para se conviver melhor."


Infelizmente, a falta de respeito para com o semelhante ainda existe no mundo “moderno”, pois as ideologias dominantes tentam mostrar a todos que os seus ideais são os corretos e que os outros precisam ser combatidos. Isso é comprovado pelo combate ao islamismo praticado pelo Ocidente, pois, na França, as mulheres não podem mais usar burca para trabalhar e isso é um desrespeito à verdade da religião deles. Dessa maneira, não há uma verdade absoluta sobre tudo, pois ela é relativa e tem de ser respeitada por todos. Só com o respeito ao outro, pode-se exigir o mesmo.


Aqui no terceiro parágrafo há uma falha na expressão escrita, que muito se aproxima da oralidade, além de haver uma falha conceitual, pois não era simplesmente para ir ao trabalho, mas em 2011 passou a vigorar, na França, a proibição do uso da burca e do niqab – véu que cobre todo o rosto, deixando apenas um espaço para os olhos – em espaços públicos. Apesar do pequeno deslize conceitual, o parágrafo se fecha dialogando com a tese e o tema. Um exemplo ótimo de Coesão Textual, pois  a cada parágrafo volta-se à tese: "Dessa maneira, não há uma verdade absoluta sobre tudo, pois ela é relativa e tem de ser respeitada por todos. Só com o respeito ao outro, pode-se exigir o mesmo."

Outrossim, Rocinante pode ser apenas um cavalo fraco para quem o ver de fora, mas para Dom Quixote, ele pode transformar-se em um eficiente alazão por ser o único cavalo que possui, o seu precioso meio de transporte. Ou seja, não dá para recriminar os pontos de vistas dos outros, pois cada um enxerga a situação por uma óptica diferente, sendo assim, há uma relatividade em cada situação e cada perspectiva necessita ser respeitada. Como diria Voltaire, “posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la.”, ou seja, a discordância é algo normal, pois a relatividade estará sempre presente, mas o direito à fala e o respeito ao outro são essenciais para que consigamos viver em um mundo que busque a igualdade e boa convivência. Pois, se a verdade de todos for ouvida, não haverá recriminação e todos terão os mesmos direitos, o que proporcionará uma melhor harmonia entre os indivíduos.


Volta-se à Dom Quixote aqui, fazendo do texto algo bem estruturado, um exemplar de coesão. Ao falar do cavalo frágil de Dom Quixote, mostra-se a sensibilidade e a preocupação de deixar claro, a cada leitor, a razão de ter usado a novela espanhola. Este parágrafo, demonstra que não foi à toa. Ao final, volta-se para a relatividade como Leonardo Boff, no texto complementar da coletânea, também a vê e discute.

Enfim, à luz do que foi na literatura a relação de Dom Quixote e Sancho Pança, em que o sonhador completava o realista, o mundo precisa aprender a conviver e a respeitar ao próximo, porquanto o mundo precisa viver em equilíbrio, já que se não houvesse uma divergência de opiniões, estaríamos acreditando que a Terra é quadrada até hoje, ou seja, não teríamos evoluído até o lugar que estamos.

A conclusão é uma boa síntese do que foi exposto, ao longo do texto e traz o porquê do título: "o mundo precisa aprender a conviver e a respeitar ao próximo, porquanto o mundo precisa viver em equilíbrio."

NOTA - Tema e Gênero - 1,0
NOTA - Conteúdo  - 3,5
NOTA - Unidade Textual - 2,0
NOTA - Linguagem - 1,5.
NOTA - Ilustração - 1,0
NOTA final: 9,0

Considero a hora mais animada e divertida, esta nossa hora de final de ano, já que estamos nos preparativos para as segundas fases da FUVEST e UNICAMP, pois dá para escrever mais e buscar melhorar nossos textos. 

Simplicidade - Os textos bem escritos são exemplares formas comunicativas, sem muitos rebuscamentos linguísticos, mas com um dizer claro, pautado em exemplos concretos, históricos e atuais. Por isso seja simples ao escrever.

Tudo isso, não vem à toa, vem com trabalho, foco, esforço, maturidade e ouvidos. Escreva dois textos por semana.

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