Que meu corpo vire giz para outras lousas!



A vida frágil do pensamento a longo prazo

Não conheço Baltimore, mas em Curitiba estudei parte do ensino fundamental, no ano de 1993. São duas cidades distantes, mas com uma peculiaridade: a violência, principalmente, policial das últimas horas.

Há dias Baltimore não sai dos noticiários estadunidenses, pois um garoto negro morrera horas depois de estar sob custódia policial. Virou um pandemônio uma das cidades mais violentas do mundo (33,9 homicídios por 100 mil habitantes). Só há duas cidades grandes nos EUA mais violentas que Baltimore, são elas: Detroit e New Orlens (39,8 e 43,4 respectivamente). Qual a razão material histórica para isso? O forte processo de "desindrustrialização" dessas cidades, junto à forte ideologia bélica dos estados de Maryland, Michigan e Luisiana. O pensamento a longo prazo lá tinha validade na industrialização.

Há dias Curitiba vivia uma efervescência alarmante. Vi antigos professores e antigos colegas de sala no colégio Júlia Wanderley chamarem a atenção para o pacote de maldades do governador Beto Richa. Li postagens indignadas de homens que no período da ditadura militar salvaram vidas e escolheram a educação por ética. Verdadeiros humanistas éticos alertando para o que havia em Curitiba. Hoje, sinceramente, fiquei mudo por horas. Em estado de absoluta vergonha pelos policiais e por pessoas que apoiam Beto Richa. Mas também em absoluta compaixão aos meus colegas professores. As balas de borracha de Curitiba atingiram também minha carne em São Paulo. Surgiram duas vontades: 1) agarrar a educação com mais afinco todo dia, até que meu corpo vire giz para outras lousas; 2) estar em Curitiba, por corporativismo físico a homens e mulheres que fazem da educação, não apenas seu ganha-pão, mas fazem da educação um alimento a longo prazo.

As cenas que vi, li, revi, reli, hoje são assombrosas. Vi cenas de dentro do Palácio do Governo, vídeos de dentro da prefeitura, outros do alto dos prédios. Todas constrangedoras para a Educação, para a Política, para o pensamento a Longo Prazo.

Nota-se que ser professor no Brasil é uma escolha frágil, como é a escolha em acreditar que com o tempo, com gentilezas, com gestos humanos e diálogos éticos se pode fazer um país "de livros e homens".

Mas ainda assim, escolho a fragilidade à brutalidade, o debate à truculência, o diálogo à andar armado, o longo prazo à estupidez militar.

Toda Força ao Povo Frágil que são os Professores deste País!
Toda Força ao Povo Curitibano que não concorda com as atrocidades de hoje!
Toda Força ao Povo do Paraná e aos professores em greve também em São Paulo!


Somos uma Frágil Fortaleza!

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