Renato Janine Ribeiro- Observatório da Imprensa





Alberto Dines entrevista o ministro da educação, Renato Janine Ribeiro. No programa, Janine falou sobre as suas expectativas em relação ao Ministério da Educação e fez uma reflexão sobre as recentes manifestações e a polarização política no país.








Renato Janine Ribeiro: Tem razão quem
se revolta
25/03/2015 02h00
"On a raison de se révolter", dizia o filósofo francês JeanPaul
Sartre no fim da vida,
quando, depois de maio de 1968, se cansou de esperar que o Partido Comunista se
consertasse e fez causa comum com os maoistas. Não é fácil traduzir a frase de
Sartre. Seria algo como "tem razão quem se revolta".
Mas qual razão, quanta razão? Eu diria que é a razão do sintoma: sentese
a dor,
procurase
a infecção, mas queixarse
não é diagnosticar a doença, menos ainda
curála.
O último dia 15 de março foi isso. A queixa é correta, o tecido social está
sofrendo, mas diagnóstico e prognóstico ficaram pela metade.
A queixa: não se aguenta mais a corrupção. O caso da Petrobras mostra uma crise
grave em uma de nossas maiores empresas. Pior, uma empresa que pertence a
todos nós. Muito resta a explicar, da falta de controle à pura indecência. Como o PT
foi entre tolerante e partícipe do processo, ele se torna a bola da vez.
A dor: como fizeram isso com nosso país? E o erro: fizeram, quem? Isso, o quê?
Nosso, de nós, quem? Aqui está o problema.
Quem "fizeram" é só o PT ou, mais que ele, o PP ou, ainda mais, um sistema político
que se acostumou a ser eficiente pela via da desonestidade? Porque há um subtexto
em nossa sociedade que diz: resolva o problema, "não quero saber como".
Não queremos saber como funcionam as coisas, desde que elas funcionem. Vejam o
que chamamos de "segurança pública". Ela depende muito da violência policial
contra inocentes. Não queremos saber a que custo reina alguma paz em nossos
bairros. O preço dessa paz é a violência contra três Ps: pobres, pretos e putas.
Ainda que insuficiente, a eficiência que o Estado consegue devese,
em vários
casos, ao "não quero nem saber". Só que agora está emergindo o iceberg inteiro.
Nós nos acostumamos ao "por fora bela viola, por dentro pão bolorento"; fingíamos
que não havia bolor, mas ele está aparecendo. Tanto no Metrô de São Paulo como
na Petrobras.
O avanço da democracia desnuda esse preço, esse bolor. Há uma reação tola: não
quero saber do preço. Um dos modos dessa reação é carimbar um culpado bem
afastado de nós. O PT cumpre hoje esse papel de demônio, que já foi de Getúlio
Vargas. Assim se afasta de nós esse calese.
Somos poupados.
As manifestações do dia 15 de março, legítimas na medida em que "tem razão quem
se revolta" (mas alguma razão, não toda), caíram no engodo de construir um Outro
demoníaco, aquele que acabou com o que era doce. O passado fica como uma
idade, senão de ouro, pelo menos de prata.
Um teste simples: se alguém contesta os males atuais em nome de um passado que
01/04/2015 Renato Janine Ribeiro: Tem razão quem se revolta 25/
03/2015 Opinião
Folha
de S.Paulo
http://tools.folha.com.br/print?site=emcimadahora&url=http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/03/1607629renatojanineribeirotemrazaoquemser…
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teria sido melhor, essa pessoa está pelo menos mal informada. Nossa história tem
podres que mal começamos a enxergar.
O presente pode parecer horrível, mas só porque expôs a chaga purulenta. O bom
que era doce se assentava em mentiras. Aumentaram as mentiras? Ou, na
sociedade da informação, é mais fácil descobrilas
do que antes? O mensalão do
DEM teria sido exposto, não fosse uma microcâmera escondida? Delações
premiadas funcionariam se os cúmplices mantivessem a lealdade dos mafiosos, que
morrem, mas não falam?
Sem uma forçatarefa
como a da Operação Lava Jato, teriam sido pegos? Quem
deve teme. Por que tantos querem que a investigação foque só o PT? A apuração
não deve ser ampla, geral e irrestrita?
Tratar o sintoma não é a solução. Meias medidas são meros paliativos. É preciso
chegar às causas. Venceremos a corrupção quando ela parar de servir de pretexto
político de um lado contra o outro e for mesmo repudiada pela maior parte da
população. Não é o caso –ainda.
RENATO JANINE RIBEIRO, 65, é professor titular de ética e filosofia política do
Departamento de Filosofia da USP. É autor de "A Ética na Política" (Ibep Nacional),
"A República" (Publifolha), entre outras obras

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