Redação acima da média feita com uma metáfora sobre o Filme "Que horas ela volta?", de Anna Muylaert





TEMA: Privilégios e Fortunas Ameaçadas: entre o ressentimento, a luta de classes e a igualdade.

No link:

http://redacaoedialogia.blogspot.com.br/2015/09/a-fuvest-costuma-cobrar-no-vestibular.html?q=privil%C3%A9gios

Título: Temor pelo fim do status de exclusivo

O filme " Que horas ela volta?", da cineasta Anna Muylaert, retrata a relação entre patrões e empregados e, por extensão, cria um amplo debate sobre um Brasil segregado, desigual e permeado por privilégios. A personagem Jéssica, filha da empregada, busca quebrar um ciclo familiar, o que mostra a luta de classes e a busca por igualdade. As situações abordadas evidenciam o quanto a sociedade brasileira é arraigada por valores preconceituosos, além de alertar sobre a necessidade de uma mudança não apenas econômica, mas fundamentalmente cultural, pois as desigualdades e os privilégios são naturalizados no Brasil atual.
          As diversas formas de desigualdade,   em especial a social e a racial, descendem do Brasil escravocrata. Embora a atual Constituição Cidadã estabeleça a igualdade de direitos, é inegável  que isso não se configure na realidade. Como exemplo, tem-se as empregadas domésticas, que conseguiram a legalização dos direitos trabalhistas apenas em 2014/2015 com a Emenda Constitucional número 72, PEC das Domésticas. Tal emenda foi encarada de forma negativa pela classe empregadora, situação que demonstra um ressentimento de classe. A ausência de direitos somada às relações entre patroes e empregados são resquícios da senzala e apontam como os privilégios são naturalizados na atualidade. 
        A naturalização dos privilégios, dos preconceitos e das desigualdades é exemplificada em "Que horas ela volta?" pelas açoes repressivas da patroa frente a personagem Jéssica. Esta além de quebrar o ciclo familiar e trocar a casa de família pela sala de aula, questionava relação entre patrão e empregado e expõe a hierarquização de classes no Brasil. Assim como no filme, inúmeras "Jéssicas" lutam pelo fim de uma sociedade baseada em privilégios e são encaradas com ressentimento pela classe mais abastada, que se sente ameaçada. Esta situação demonstra a resistência cultural das classes privilegiadas, como ocorreu no Brasil monárquico ao longo das lutas pela lei Áurea.
       No passado brasileiro, as desigualdades eram constitucionais, hoje a Constituição Cidadã os erradica. Entretanto, as relações existentes evidenciam o quanto as desigualdades são naturalizadas e culturalmente defendidas pelos privilegiados. Neste cenário configura-se uma luta de classes, na qual a maioria desabastada luta pela igualdade diante de uma minoria privilegiada que teme o fim do seu "status de exclusivo".

***
[Redação feita por uma aluna do Redação e Dialogia que hoje faz UNIFESP - Escola Paulista de Medicina]


***

Comentário: A NOTA desta Redação fica próxima ao DEZ. Só tiramos ponto por ela não ter abordado de forma mais incisiva a questão das "Fortunas Ameaçadas" e ficou mais nos "Privilégios Ameaçados". Porém, como são dois conceitos próximos e o texto ficou muito bem articulado, muito bem escrito (linguagem simples e precisa), não há como dar nota menor que 9,0.

O ponto chave do texto: O paralelo feito com o Filme é muito bem explorado, chamamos isso de ILUSTRAÇÃO - que é o uso de um exemplo literário, cinematográfico, mitológico ou mesmo de uma série da Netflix que serve para dar concretude e estabelecer paralelos com o tema pedido.

A ILUSTRAÇÃO é muito bem feita nesta redação, pois logo no primeiro parágrafo mostra-se como o tema está intricado ao filme. Faz-se uma descrição quase que narrativa das personagens do filme e depois faz-se a analogia ao final do primeiro parágrafo com a Tese:"As situações abordadas evidenciam o quanto a sociedade brasileira é arraigada por valores preconceituosos, além de alertar sobre a necessidade de uma mudança não apenas econômica, mas fundamentalmente cultural, pois as desigualdades e os privilégios são naturalizados no Brasil atual."
A tese é sofisticada e simples:"as desigualdades e privilégios são naturalizados no brasil."

No desenvolvimento há clara análise da realidade de preconceitos e ressentimentos naturalizados no Brasil. O exemplo usado é a PEC das Domésticas. Muito bem usado, pois coloca o tema relacionado com a PEC e ainda ao final do parágrafo faz referência a uma situação umbilical do filme: a relação patrão e empregada doméstica.

No segundo parágrafo de desenvolvimento vemos isso com mais clareza: o preconceito e o ressentimento que são naturalizados são postos para o leitor com passagens do filme, com atitudes das personagens, mas também é feito um paralelo histórico sutil com a escravidão que parece só ter mudado de nome desde o período colonial.


"A naturalização dos privilégios, dos preconceitos e das desigualdades é exemplificada em "Que horas ela volta?" pelas açoes repressivas da patroa frente a personagem Jéssica. Esta além de quebrar o ciclo familiar e trocar a casa de família pela sala de aula, questionava relação entre patrão e empregado e expõe a hierarquização de classes no Brasil."

A solução é evocada na conclusão: o respeito à Constituição cidadã, que já havia sido mencionada e tratada no desenvolvimento.

Texto harmônico e bem escrito. A tese não é esquecida em nenhum dos parágrafos. Aparece com clareza no primeiro; é desenvolvida no segundo; é exemplificada no terceiro; e é retomada como ponto de encaixe na conclusão.

"No passado brasileiro, as desigualdades eram constitucionais, hoje a Constituição Cidadã os erradica. Entretanto, as relações existentes evidenciam o quanto as desigualdades são naturalizadas e culturalmente defendidas pelos privilegiados."


Texto coeso. Texto com linha de pensamento simples. Texto bem estruturado. Texto que parte de um fio condutor (o Filme) e traça uma tessitura narrativa-argumentativa consistente.

O texto fecha-se tão bem que volta ao título: "Temor pelo fim do status de exclusivo".

NOTA final:  
9,5

[Fabrício Oliveira, foi Coordenador Geral do Sistema Poliedro - São Paulo (entre 2011 e 2016); é Professor Doutor em Linguística e Filosofia da Linguagem no IFSP e Colaborador do Colégio Ser - Poliedro Sorocaba.]

Comentários

Entre em Contato pelo WhatsApp (11) 988706957

Nome

E-mail *

Mensagem *

MAIS VISITADAS