"Notícias de Uma Guerra Particular" - Entendendo a violência


Alguns documentários são uma verdadeira jóia rara. E este é o caso  explícito do excelente "Notícias de uma guerra particular."


Obviamente, esse documentário não irá esclarecer tudo de ruim que acontece em nossa sociedade. Ele é imparcial, aparentemente, pois mostra todos os lados possíveis do quadro da violência urbana no Rio de Janeiro (polícia e seus agentes, e o morador da favela). Todavia, uma constatação fica no ar: como viver uma vida digna nas favelas quando te tiram o direito de sonhar?

"Eu quero comprar um Mizuno de 200 reais e não posso. O que eu posso fazer? Vou lá e assalto um banco mesmo!". Não é exatamente esse o diálogo, mas um preso cria essa reflexão "tolinha". Será? Qual é o tênis que está sendo utilizado na parte de baixo do morro (cidade)? Nas novelas da Globo? Um menino que trabalha para o tráfico elegeu o preferido dele, "eu gosto do Nike". Quais são os valores que estão sendo "vendidos e comprados" por essas pessoas?

O consumismo vende sonhos, afinal, nas propagandas da TV, quem possui esses produtos está sempre sorridente e bem vestido. O pessoal lá de baixo, que mora nos prédios e nas casas - fora das favelas, também estão vestindo isso, também estão sorrindo.

O tráfico também vende sonhos. O menino que entra para o tráfico sonha em ser consumidor de tudo que é bom que "a vida lá de baixo" nos dá, no entanto, não falo somente dos "tênis de marca", mas também de respeito. Quer ser respeitado, quer ser visto como alguém que ascendeu, que agora é notado, visto.

Porém, uma das visões que esses guris adquirem não é agradável. A palavra "suicida" aparece no filme algumas vezes, vinda dos próprios moradores e das autoridades. O sentimento que fica é que não estão ligando muito se vão morrer cedo, querem morrer plenos, completos, cheios de Nike Shoocks, de dinheiro. Bora morrer e gastar, morrer e cheirar, morrer e pegar o que é "nosso" por direito.

Rodrigo Pimentel, do Bope, que dizem ser o cara que pariu o "Capitão Nascimento", é pontual, sincero e apresenta diagnósticos interessantes, ele está no filme. Diz que quando mata, volta para casa com o sentimento de dever cumprido, sem grandes remorsos. Em outro momento é questionado se gostaria de participar de uma guerra, diz: "eu estou participando de uma, a diferença é que volto para casa todos os dias".

Esse filme deve ser assistido. É um convite a uma constante e cada vez mais clara reflexão para mim. Ser pobre não é sinônimo de ser bandido, contudo, a desigualdade social, a exclusão do espaço urbano, a vida na favela, os sonhos de consumo impossíveis, levam algumas pessoas a arriscar a vida por "tão pouco". Pelo Nike Shooks.

Você pode estar pensando, "tá faltando educação". Pera, cadê as escolas do morro? Tem alguma aí? Devem estar "lá embaixo", com os homens de "Benz".






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