A era dos bolhas

Era dos Bolhas


Facebook criou um controverso logaritmo novo, mecanismo matemático, nestes últimos meses. Note que apenas de 3% a 6%, em média, dos teus contatos tem afinidades logicamente selecionadas contigo. Isso se chama "Bolha Virtual". A mais nova modalidade de exclusão e exclusivismo. Cria-se com isso, o que o teórico Eli Pariser chama de "Síndrome do Mundo Bom".


As pessoas têm interesses diversos, mesmo pertencendo a um idêntico grupo social ou econômico. Sendo assim, embora pareçamos todos um pouco mais do mesmo, somos diversos em afinidades e mais diversos ainda em clicks e curiosidades. Duas pessoas que usam o mesmo Wi-Fi na mesma casa, em dois clicks logo são direcionadas aos seus gostos baseados nos últimos "curtir". O que o algoritmo faz, portanto, é nos distanciar mais dos nossos mais próximos. Ficamos fechados, cada um, na nossa bolha de mundo bom.


O perigo está cada dia mais evidente, pois se o Facebook nos distancia, as Grandes Mídias acabam tendo um papel perverso e aglutinador, já que 97% dos lares brasileiros têm TV, por exemplo, o que circula de informação no JN ainda é o principal meio aglutinador de assuntos e temas coletivos. 

Onde está o perverso aí? 

Está no fato do JN manipular acintosamente as informações. A seleção das informações é feita por uma pauta comprada ou que nega a formação ética e política do cidadão. Basta ver como uma noticia de Seleção Brasileira (informação eufórica) é posta logo depois de um escândalo do governo Temer (informação disfórica), o qual a Rede Globo, por enquanto, ainda apoia. Há um grande perigo aí, pois ao não formar cidadãos, o distanciamento humano aumenta, e, consequentemente, as intolerâncias. A ponto de um pai matar um filho por divergências ideológicas pueris, em Goiás, na última semana de novembro de 2016. 


Parece que a "Síndrome do Mundo Bom" fabrica homens bolhas, uma espécie de Era dos Bolhas, que poderia ser algo bom, pelo exclusivismo, mas, na realidade, nos distancia e exclui cada vez mais da voz do Outro, do olhar do Outro, do aprendizado com as diferenças dos Outros.

O mecanismo matemático, o Algoritmo do Facebook, em suma, é uma lógica racionalista, quase positivista de eugenia de discursos, de purificação das nossas redes, de limpeza das diferenças, ou seja, se não abrirmos os olhos, a lógica do algoritmo criará fascismos brotando em bolhas.

Fabrício César de Oliveira, 38 anos, Doutor em Filosofia da Linguagem e Linguística pela UFSCar.

Comentários

Entre em Contato pelo WhatsApp (11) 988706957

Nome

E-mail *

Mensagem *

MAIS VISITADAS