Exemplo de Redação Nota Máxima - UNIFESP

TEMA UNIFESP 2012 – Variação Linguística no Contexto da Educação


Tecendo a língua

Certa noite, a agulha, cansada de ser menosprezada, discute a sua relevância com a linha. Esta, por acreditar que nada era mais importante do que juntar e manter unido os retalhos, mantia o seu ar arrogante; aquela, por sua vez, tentava justificar o seu mérito ao abrir caminhos pelo dito tecido. É assim que Machado de Assis, em Um Apólogo, apresenta dois tipos caricaturais no qual um é vangloriado e o outro é renegado. O conflito entre a língua culta e a popular é o mesmo que o da linha e da agulha: as variantes populares são negligenciadas ainda que imprescindíveis no âmbito educacional.

É característico da língua o seu papel de costurar sempre o caminho mais rápido. Em sua teoria linguística, Mikhail Bakhtin afirmava que a língua é dialógica, ou seja, tanto a fala como a escrita possuem como objetivos estabelecer um diálogo. Há, nesse aspecto, igual importância do emissor e receptor: um por transmitir a informação, outro, por adequar o discurso do emissor. Desse fato decorre a necessidade de o indivíduo ser educado a adequar o seu linguajar para cada público, para cada contexto, com o intuito de estabelecer a comunicação de forma rápida e efetiva. Assim, negligenciar as variantes populares, pelo fato de romperem com a gramática normativa, é esquecer que existe uma heterogeneidade de públicos-alvo, é condenar a efetivação da linguagem.

A língua é como se fosse um tecido, tecido pelas variantes populares e mantidas pela variante culta. A língua popular é a vanguarda que modifica a língua ao buscar sempre caminhos mais rápidos para a comunicação – a flexão só do artigo como forma de marcar a pluralidade no trecho “Os livro ilustrado mais interessante” comprova isso. Por outro lado, a linguagem culta também é fundamental, pois quando há desejo de comunicação e as variantes linguísticas do emissor e receptor são distintas, é a gramática normativa que uniformiza um padrão – textos científicos em português culto, por exemplo, permite que qualquer cidadão letrado do país leia-o. Percebe-se que a educação deve englobar tanto a variante popular como a culta para que um cidadão possa se adequar a sociedade.

O brasileiro deve ser um poliglota da própria língua, ou seja, ele deve saber transitar nos diferentes tipos de variantes linguísticas. Assim, a discussão no âmbito educacional acerca da importância da variante culta sobre a popular é infundada: tal como um tecido em que a linha e agulha são igualmente importantes, o mesmo ocorre para as variantes linguísticas.


[SIC - texto transcrito a partir do rascunho entregue por aluno Poliedro MED – SP para mim, logo após a prova. O tema da UNIFESP foi "A questão da variação linguística no contexto da educação', vestibular do dia 15/12/2011]

Considerações sobre a Redação:

 Demonstra exímia escrita e clareza nos conceitos aplicados e discutidos. 

É um raro exemplo de redação muito acima da média. Não há erro conceitual, nem falhas gramaticais (apenas um ortográfica e outra de concordância) que compliquem o alto nível do texto. 
O texto tem estrutura, progressão e desenvoltura discursiva atingindo o mais alto nível de interlocução com o tema.

Redação com nota aproximada de 9,0, mas podendo ser um 9,5 ou DEZ.

Em uma Grade de Correção FUVEST/UNIFESP a nota final ficaria assim:

Item A - Tema e Conteúdo - nota 4,0 (Máximo 4,0)
Item B - Estrutura - nota 2,5               (Máximo 3,0)
Item C - Língua escrita - nota 2,5.      (Máximo 3,0)

Notal final 9,0



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