Homossexualismo ou Homoafetividade? Qual a diferença?
Leia os dois textos de Hélio Swartsman (filósofo, colunista da
Folha de São Paulo) logo abaixo. Elabore uma dissertação, em
prosa, a respeito do “patrulhamento linguístico” (palavras
politicamente corretas).
Você concorda ou discorda do
colunista? Defenda seu ponto de vista.
• Dê título ao texto;
• Máximo de 32 linhas.
Hélio Swartsman – Folha de São Paulo 27/02/2013
Em defesa do homossexualismo
SÃO PAULO - Alguns membros de comunidades
homoafetivas e simpatizantes me recriminaram porque, no sábado
passado, numa coluna em que critiquei as declarações do pastor
Silas Malafaia sobre gays, eu utilizei o termo "homossexualismo", e
não "homossexualidade", como teriam desejado.
Estou ciente dessa preferência, mas receio que ela não
tenha o fundamento alegado. Ao contrário do que dizem alguns
militantes, simplesmente não é verdade que "-ismo" seja um sufixo
que denota patologia. Quem estudou um pouquinho de grego sabe
que o elemento "-ismós" (que deu origem ao nosso "-ismo") pode ser
usado para compor palavras abstratas de qualquer categoria:
magnetismo, batismo, ciclismo, realismo, dadaísmo, otimismo,
relativismo, galicismo, teísmo, cristianismo, anarquismo, aforismo e
jornalismo. Pensando bem, esta última talvez encerre algo de
mórbido, mas não recomendo que, para purificar a atividade, se
adote "jornalidade".
De qualquer forma e por qualquer conta, as moléstias são
uma minoria. Das 1.663 palavras terminadas em "-ismo" que meu
Houaiss eletrônico relaciona, apenas 115 (um pouco menos que 7%)
designam doenças ou estados patológicos. E olhem que fui liberal
em meus critérios, contabilizando mais de uma dezena de termos
que descrevem intoxicações exóticas, como abrinismo e zincalismo.
Compreendo que os gays procurem levantar bandeiras,
inclusive linguísticas, para mobilizar as pessoas. Em nome da
cortesia pública, eu me disporia a adotar a forma
"homossexualidade", desde que ela fosse defendida como uma
simples predileção. Mas, enquanto tentarem justificar essa opção
com base em delírios etimológicos, sinto-me no dever de continuar
usando a variante em "-ismo". Alguém, afinal, precisa zelar para que
preconceitos não invadam e conspurquem o universo de sufixos,
prefixos e infixos. A batalha pode ser inglória, mas a causa é justa.
Hélio Swartsman – Folha de São Paulo 01/03/2013
Esteira de eufemismos
SÃO PAULO - Como minha caixa de mensagens continua
atulhada de e-mails a propósito da polêmica homossexualismo x
homossexualidade, resolvi dedicar mais uma coluna ao tema.
Prometo que é a última.
Não tenho nada contra a variante homossexualidade e me
disponho a adotá-la tão logo os militantes parem de denegrir o sufixo
"-ismo", que, ao contrário de "-astro", não encerra nada de
pejorativo. Acredito, porém, que essa substituição de nomes é, muito
provavelmente, um exercício fadado ao fracasso.
O pressuposto do patrulhamento linguístico é o de que
palavras insidiosamente moldam atitudes, o que torna necessário
manter vigilância constante contra formas sutis de ofensa. Embora
haja nas humanidades quem ainda sustente essa tese, ela foi já há
muito abandonada pelas ciências cognitivas. Nesse modelo, o que
ocorre é exatamente o contrário. São as ideias das pessoas,
incluindo seus preconceitos, que influenciam a linguagem,
originando o fenômeno que o psicólogo Steven Pinker apelidou de
"esteira de eufemismos".
A palavra "alcoólatra", por exemplo, foi proposta no início
do século 20 para substituir "bêbado" e seus sinônimos mais
vulgares, com o objetivo de reduzir um pouco a carga negativa que
pesava contra essas pessoas. É óbvio, porém, que a permuta de
nomes não fez com que os alcoólatras parassem de beber, de modo
que o novo termo logo foi contaminado pelas mesmas mazelas que
o fizeram surgir. Em pouco tempo, foi trocado por "etilista",
"alcoólico", "dependente químico". A lista é aberta.
Algo parecido aconteceu com o "de cor", que substituiu
"crioulo", para depois dar lugar a "preto", "negro" e "afro-brasileiro".
Pinker diz que a esteira de eufemismos é a melhor prova
de que são os conceitos --e não as palavras-- que estão no
comando. Em vez de combater nomes, deveríamos nos concentrar
nas atitudes, que são, afinal, o que se deseja mudar.
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