O quê a Redação tem a ver com os Prêmios Nobel de Cambridge?

Aprovados na Faculdade de Medicina Pinheiros - FMUSP



O mês era Julho de 2011 e cheguei a negar o convite três vezes, pois queria me dedicar aos escritos, aos filhos e ao doutoramento. Contudo, o projeto era ambicioso: queriam entender qual a razão de não aprovarem tanto na Pinheiros como aprovavam nas outras faculdades de medicina. Eu tinha a resposta, mas ainda não tinha o capital humano. Mas o mais importante é que o convite propiciava uma possibilidade desafiadora: tratar futuros estudantes de medicina e médicos com humanismo e dialogia (leia como possibilidade de uma maior Humanização da Área da Saúde). Principalmente, por isso, o desafio foi aceito. O meu trabalho começa sozinho no segundo semestre de 2011 e os resultados podem ser contados a partir de 2012. Depois, em 2013 em diante, uma equipe é formada melhorando muito o trabalho iniciado.

Qual era o problema? 

1) O trato puramente mecanicista que a escola dava ao vestibular. Tornando os alunos bitolados, reprodutores de discursos, máquinas de fazer provas testes;

2) Pouco diálogo com os alunos, falta de Tutoria personalizada, falta de cuidado com o pensamento do aluno, com desenvolvimento cognitivo e intelectual dele;

3) Cultura "exatóide" apenas e um ambiente militarizado.

Qual a solução?

a) Incentivar a autonomia do aluno, por meio de debates, de palestras que façam pensar fora da caixinha e aliar ao ensino mecanicista um outro tipo de ensino: o da autoria;

b) Montar uma equipe de ótimos leitores, bons corretores e gente disposta a ouvir e apontar caminhos, sem interferir no estilo do aluno. Ou seja, professores que fizessem a tutoria dos textos dos alunos;

c) Aliar ao ensino militarizado e disciplinado um modo de expansão das características individuais dos alunos, pois não adianta ser bom só em exatas para passar em medicina, há que se encontrar o equilíbrio. Todas as matérias devem ter um índice entre 8 ou 9 pontos. 

Qual o papel da Redação nas aprovações? E qual a semelhança com Cambridge?

O papel é direto. Os alunos que prestam medicina, muitas vezes, dedicam a vida toda aos estudos. São alunos com bom índice, porém deixam de lado a leitura, os livros, os escritos e não têm um TUTOR para lê-los e desafiá-los, como faz Cambridge e outras escolas no mundo.

Ou seja, em Cambridge, há  mais de 800 anos, se ensina Dialogia.

Criamos o Atendimento Personalizado de Redação. Uma espécie de Tutoria. Como ocorre em Universidades como Cambridge. Lá, além do ensino tradicional muito forte, tem as conversas individuais com o professor. Acreditem, lá o professor orienta aluno por aluno na graduação! Nas universidades brasileiras isto só ocorre na pós-graduação, ou seja, demora demais e perde-se muito do ânimo do ímpeto dos jovens pensadores. A universidade inglesa acumula mais de 800 anos e mais de 80 prêmios Nobel em seu histórico. 

Como Cambridge consegue tantos resultados?

Com escuta, diálogo, desafios, pesquisas, bons professores, os melhores alunos e credibilidade. Procuramos fazer o mesmo. A escola conta com excelentes professores de todas as áreas, um ótimo professor de Redação, excelentes de História, Química, Física, Matemática e por isso faltava o cuidado com o aluno. Ele veio por meio da Redação.

Todas as redações são comentadas, por um grupo de corretores (a parte mais complicada, pois no Brasil não se tem bons leitores, nem bons corretores. É preciso treiná-los constantemente). Todos os alunos têm direito ao Atendimento/Tutoria de Redação, 30 minutos por semana, no mínimo. Todos têm a possibilidade de falar com o Coordenador de Redação. Tudo para que o aluno entenda que o mais importante é ele se desafiar a fazer melhor, pois ficamos atentos ao que ele pode fazer de melhor.

O que une a Redação à Cambridge, portanto, é a Tutoria aos alunos. Vale dizer, que cada vez mais esta Tutoria é um resgate aos modos mais eficientes de Educação. Sócrates, pelo método da Maiêutica fazia Tutoria com seus discípulos. Sócrates foi o primeiro tutor da história. Da Vinci tinha tutores para tudo na infância, desde a pintura até aulas de geometria. Dentre os prêmios Nobel de Cambridge, podemos citar a descoberta do DNA humano, que fora totalmente tutorado por uma equipe de professores há mais de 60 anos.   

Ter uma equipe que acompanhe o aluno. Abrindo diálogo é imprescindível para o trabalho e os resultados de excelência. O mais importante seria que a família, o pai, a mãe ou alguém responsável pudesse acompanhar cada um dos alunos, mas sabemos que muito disse é trabalho da escola. É nela que o aluno potencializa seus conhecimentos. Os estudos estão muito avançados, por isso cada vez mais precisamos de tutores, principalmente, lendo os textos dos alunos. Entre Cambridge e a Redação há o mesmo trato com o potencial intelectual do aluno dedicado.

Mas onde fica a Autoria e a Autonomia do aluno?
No texto. É o melhor lugar para reconhecer a autonomia de pensamento do aluno. É a redação o Raio -X da formação do aluno. Quando o aluno escreve, logo se vê que ele articula um modo próprio de dizer aquilo que quer dizer, embora muitas vezes não consiga. Mas é trabalho de um Tutor com bons ouvidos, bons olhos, boa escuta e bom diálogo, fazer do estilo próprio do aluno, um estilo de excelência. 

Deixando o aluno pensar, incentivando-o a ler e desafiando-o a escrever sua própria história, temos autoria e autonomia nas mãos e bem escritas aos olhos.


Fabrício Oliveira, 36 anos, é Doutor em Linguística e Filosofia da Linguagem pela Universidade Federal de São Carlos, com a tese intitulada "Da Saúde à Qualidade de Vida - Por um Humanismo Ético bakhtiniano". (Março de 2015). Desde 2011 é Coordenador de Redação do Curso Poliedro São Paulo.




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