FUVEST - O Tema de todos os temas - Convívio Social - e exemplos de redações acima da média



O exame da FUVEST, na segunda fase, engloba todas as matérias com questões discursivas, contudo está no seu primeiro dia o bom desafio da Redação e das questões de Português. São 10 questões e uma redação para fazer em 4 horas. Tempo suficiente para escrever um bom texto.

Há na FUVEST a tendência para temas conceituais, alguns dizem filosóficos, abstratos, porém o melhor termo é 'conceitual', já que a prova cobra do vestibulando uma elaboração de argumentos,  de dados de realidade, de autoridade, sobre um conceito amplo aos seres humanos, como "Altruísmo e Pensamento a Longo Prazo" (2011), "Consumismo" (2013), "Participação Política" (2012), "Fronteiras" (2009), "Imagens" (2010).

Embora, sejam conceitos amplos e caros aos seres humanos, cabe ao vestibulando dar concretude e exemplos de realidade para os temas, por exemplo: apontar se ainda há lugar para o altruísmo no mundo contemporâneo, apontar quais lugares ainda o encontramos, ou mesmo, quais são os lugares em que há convívio de altruísmo e pensamento a longo prazo nos nossos dias; apontar como o homem vive sob uma égide do consumismo, e quais suas causas e consequências na vida e nas escolhas de cada ser humano em seu convívio com o consumismo;  apontar como a participação política está hoje, se indispensável ou superada em nossos convívios com a política; apontar quais as fronteiras do convívio humano e social.

Torna-se nítido que a base de tudo é  uma questão do homem como ser social, como ser cultural, como ser que interage com os bens simbólicos de sua época, mas que dialoga com outras épocas por meio dos estudos históricos, artísticos, científicos e literários. Usar e dar exemplos para os TEMAS CONCEITUAIS da FUVEST é indispensável. Ao apontar exemplos, coloque ao menos um exemplo histórico e outro de atualidade, pois isto demonstra pés no chão, senso crítico, senso de realidade. Já que muitos candidatos se perdem nas abstrações e citações. O bom candidato traz a realidade para dentro do texto, mostrando que sabe que o conceito é um símbolo retirado da fonte de todas as formas de abstração: a vida, imensa em realidades, exemplos, concretude e caldos culturais.

Sendo assim, existe um Grande Tema da FUVEST, o tema dos temas. Ele foi explicitado no ano de 1998:  CONVÍVIO SOCIAL.

Afinal, ao questionar o candidato sobre altruísmo, pensamento a longo prazo, participação política, fronteiras, consumismo a FUVEST apenas está questionando ao vestibulando se ele sabe dar conta do que é ser humano ao CONVIVER com uma realidade múltipla e diversa, sem se perder em ABSTRAÇÕES e achismos.


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A partir da leitura dos textos abaixo, redija uma DISSERTAÇÃO em prosa, discutindo as ideias neles contidas.

(...) o inferno são os Outros.

(Jean-Paul Sartre)

(...) padecer a convicção de que, na estreiteza das relações da vida, a alma alheia comprime-nos, penetra-nos, suprime a nossa, e existe dentro de nós, como uma consciência imposta, um demônio usurpador que se assenhoreia do governo dos nossos nervos, da direção do nosso querer; que é esse estranho espírito, esse espírito invasor que faz as vezes de nosso espírito, e que de fora, a nossa alma, mísera exilada, contempla inerte a tirania violenta dessa alma, outrem, que manda nos seus domínios, que rege as intenções, as resoluções e os atos muito diferentemente do que fizera ela própria (...)

(Raul Pompéia)

– ``Os outros têm uma espécie de cachorro farejador, dentro de cada um, eles mesmos não sabem. Isso feito um cachorro, que eles têm dentro deles, é que fareja, todo o tempo, se a gente por dentro da gente está mole, está sujo ou está ruim, ou errado... As pessoas, mesmas, não sabem. Mas, então, elas ficam assim com uma precisão de judiar com a gente...''

(João Guimarães Rosa)

(...)
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.


(Carlos Drummond de Andrade)

O filósofo e psicólogo William James chamou a atenção para o grau em que nossa identidade é formada por outras pessoas: são os outros que nos permitem desenvolver um sentimento de identidade, e as pessoas com as quais nos sentimos mais à vontade são aquelas que nos ``devolvem'' uma imagem adequada de nós mesmos (...)
(Alain de Botton)

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Exemplo de Redação acima da média. Nota 7,0

Em busca de um mosaico reflexivo

Assim como o mosaico é formado a partir dos pedaços de cerâmica, o conhecimento é construído a partir de experiências vivenciadas por cada indivíduo. Contudo, se, no mosaico, “os outros” escolhem o lugar onde cada peça é colocada, na formação de um homem, ele possui a liberdade de optar pelo caminho a ser seguido, isto é, ele também é agente da própria formação. Porém, nos indivíduos da pós-modernidade, essa liberdade está sendo limitada, já que eles são moldados, praticamente apenas, pelo meio, ou seja, tornaram-se meros reprodutores da cultura de massa, vigente na sociedade atual. Portanto, o homem está se transformando, gradativamente, em um perfeito mosaico, processo o qual acarreta graves implicações políticas.

O mundo atual, caracterizado por Milton Santos como meio tecno-cientifíco-informacional, possibilita um grande fluxo de informacões, que ocasionou a diminuição do processo reflexivo das pessoas. Elas pararam de analisar com profundidade as informações, apenas as aceitam. Um exemplo dessa característica é a preferência pelo jornal nacional, que oferece notícias pequenas intercaladas, em detrimento do jornal da cultura, o qual propõe um debate ao final de cada notícia. Logo, o sistema vigente propicia uma menor participação do indivíduo em sua formação.

No entanto, cada cidadão é, também, responsável por essa característica pós-moderna. Jean-Paul Sartre diria que aceitar a imposição cultural, por exemplo, também é uma opção e quem a escolhe, é inteiramente responsável por ela. Analogamente, tomando por base a metáfora dos óculos kantiana, seria como aceitar o óculos imposto pela sociedade, ou seja, é deixar sua liberdade ser tomada pelo modelo vigente seria como optar pela restrição de sua liberdade pelo modelo vigente a fim ter a comodidade de não precisar refletir.

Ademais, esta situação, na qual uma população inteira veste esse óculos, origina o conformismo político, um veneno para a democracia. Como a mentalidade imposta, nesse caso, é a do grupo dominante, a população, alienada, corrobora o poder desse grupo, pois ao se distanciar de qualquer tipo de questionamento, ela ajuda na manutenção do poder. Assim, a democracia, pautada na discussão, no diálogo, se enfraquece.

A perda parcial de sua autonomia, pois, tornou o cidadão em um instrumento do grupo dominante. Enquanto a formação de um indivíduo pautar-se apenas em suas vivências sem reflexões (um perfeito mosaico), a contribuição dele para com a sociedade será nula e, consequentemente, o poder se manterá inalterado, inquestionado, empobrecendo a democracia.

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Exemplo 2 - Redação acima da média - Nota 7,0.

Prisma humano

     O prisma recebe raios múltiplos da luz solar, no entanto reflete apenas alguns em cores específicas. Segundo o mesmo princípio, o homem é influenciado pelo meio em que vive por diversas formas, seja pelo convívio social, seja por qualquer fonte que interfira na formação da identidade.

     Essa influência pode ser vista claramente na Antiguidade Clássica. Em Esparta, a herança cultural dórica tornou militarizada a sociedade espartana, cujo topo da pirâmide social era constituída por hoplitas, os soldados-cidadãos. Já em Atenas, a herança cultural produzira uma sociedade em que os indivíduos prezavam pelo desenvolvimento do lado político e intelectual. Assim, a identidade do sujeito era formada pelo contato deste com a sociedade, contato este pautado, naquela época, principalmente na transmissão da herança cultural.

     Antes, o convívio social era restrito nas sociedades, hoje, no mundo globalizado, o contato é muito mais abrangente e não se pode dizer que certa herança cultural influencia inteiramente um indivíduo. Nesse contexto, o convívio social adquiriu tamanha importância na formação do indivíduo que a proposição “o inferno são os outros” tornou-se emblemática do modo de agir das pessoas, que se preocupam com o julgamento alheio. Logo, surge uma consciência social imposta a partir do contato com os outros e a partir de outras influências como a mídia. Esta, por sua vez, dita modas, valores e costumes, moldando o indivíduo de acordo com tais influências. Até mesmo a escolha de uma atividade profissional, por exemplo, pode ser influenciada pelos valores de uma sociedade. Desse modo, a sociedade e a imposição de paradigmas atuam como fontes determinantes da formação de um ser humano, determinação esta que influencia desde a escolha lexical de um discurso à compra de uma casa.

     Por conseguinte, visto que as determinações ocorrem de maneira homogênea no mundo todo, pessoas são automatizadas, seguindo, em linhas gerais, os mesmo padrões. Em vias de impedir que a proposição de Sartre “o inferno são os outros” se faça valer, é necessário obter mais autonomia sobre as informações e/ou experiências adquiridas, de modo crítico e não só receptivo como uma esponja que apenas absorve; é importante, então, que essa autonomia desponte para que o próprio sujeito não se torne o “inferno” de outro sujeito, propagando os mesmos valores recebidos.

     Portanto, passa a ser mais notória a outra proposição de Sartre, segundo a qual não importa o que fizeram conosco, mas aquilo que fazemos do que fizeram conosco. Analogamente ao prisma, não importa de onde vem a luz, mas como ela irá refratar, a depender de cada indivíduo.

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Exemplo 3 - Redação acima da média - Nota  7,5

Homem como produto do meio mas não somente

   O homem nasce como uma tábula rasa. Ele é, nesse momento, potencialmente bom e potencialmente mau. O fator que moldará esse homem é a sociedade e o convívio que ele tem com ela. Em sua teoria contratualista, Jean-Jacques Rousseau prega que a sociedade é o que determina o homem. Isso, no entanto, não passa de uma constatação da realidade, já que é a partir do convívio social que se constrói a essência do homem: é com a sociedade, por exemplo, que ele aprende sobre a ética, a cultura, a língua e sobre diversos outros aspectos que o definem. Mas, há, em certos contextos, indivíduos que destoam do meio social onde vivem. Desse modo, conquanto o convívio seja essencial para a formação do homem, não deve ser característica suficiente para determiná-la.
  
Na cidade de Nuremberg, Alemanha, do século XIX, foi encontrada uma criança abandonada. O nome dela era Kaspar Hauser. Kaspar, envolto por uma infância enigmática, foi criado acorrentado ao chão de um porão. Durante sua infância, fase do desenvolvimento indispensável, o garoto de Nuremberg quase não teve nenhum contato com outros homens. O único contato que tinha, por mais estarrecedor que soe, era com o homem que dele "cuidou", quando ele levava pão e água para alimentá-lo. Nesse contexto, Kaspar, por não ter o convívio social que o moldaria como homem, viu-se com um desenvolvimento severamente debilitado. Por isso, ele não era aceito socialmente. No entanto, com o convívio que passou a ter com os moradores de Nuremberg, a tábula ainda rasa começou a se modelar e, quando adulto, Kaspar estava, prejudicado, mas forjado como homem e aceito socialmente.

   Por outro lado, essa intensa relação entre a formação individual e o convívio social tem seus aspectos negativos. Aqueles que se pautam exclusivamente no convívio para a formação individual, estão sujeitos à coercitividade social. Em outras palavras, aqueles que aceitam, sem nenhum tipo de filtro, aquilo que o meio social lhes determina, estão propícios a serem regidos pelo meio. Por exemplo, em uma favela: apesar daqueles milhares de garotos que, sucumbindo às pressões do meio, se unem ao tráfico, há aqueles poucos que vão à escola e conseguem superar esse convívio degradante. Isso é possível justamente por esse filtro natural que eles possuem, que lhes garante a seleção das características sociais que moldarão seu próprio ser individual.

   Conforme a teoria de Durkheim, o homem só é aceito dentro de um grupo social quando ele adquire certos comportamentos e segue certos fatos sociais. Por isso, Kaspar Hauser não era aceito pela sociedade de Nuremberg inicialmente, mas passa a ser aceito depois de certo convívio social e depois de aceitar certos fatos sociais. No entanto, esses fatos sociais, que moldam o indivíduo, possuem altíssimo poder coercitivo sobre ele, podendo determiná-lo socialmente. Por esse motivo, o homem não deve adotar todos os aspectos da coerção social, ele deve selecionar quais aspectos irá aceitar. Nesse ínterim, o homem é, sim, um produto do convívio social, mas não deve ser só disso.


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Exemplo 4 - Redação acima da média - Nota 6,5


O convívio em sociedade

A definição que deu-se a Diógenes de Sinope, o famoso cínico da Grécia, sobre o que é o homem, foi a de que este é um "bípede implume". Com isso, o filósofo encontrou uma galinha depenada e proclamou: "eis aqui, então, um homem". Essa passagem exemplifica a dificuldade de definir o ser humano desde a Antiguidade. No entanto, nos dias atuais, acredita-se que o homem é estabelecido como um ser cultural e por isso produto das relações sociais. Desse modo, a convivência é indispensável à formação do homem.

Em Nuremberg, na Alemanha, viveu Kaspar Hauser, que foi privado do convívio social desde a infância. A população local não o identificava como um membro da sociedade, já que ele não exercitou a prática social. Por conseguinte, Kaspar não obteve Cultura, e com isso não possuiu paradigmas para atribuir significado ao mundo exterior e interagir com ele - Kaspar não demonstrava medo, senso de humor ou dor. Este episódio ilustra a importância da sociedade para a "humanização do homem", como nos versos de Drummond.


O convívio em sociedade, se por um lado é o fator responsável por construir o homem, por outro pode ser árduo, devido às diferenças entre os indivíduos que muitas vezes levam a atritos e desavenças, explicitados por Sartre em "O Inferno são os outros". Contudo, segundo a teoria do psiquiatra Jaques Lacan, a experiência com o "outro" é responsável pela elaboração do "eu" - em outras palavras, a humanização e a construção do homem na sociedade dependem justamente das diferenças entre os indivíduos. Sendo assim, em vez de caracterizar o outro como o "Inferno", conturbando a relação com o próximo, as diferenças dentro de uma sociedade devem ser conciliadas, dado sua importância para a humanidade. A negação de uma cultura ou o sentimento de superioridade possuem consequências que foram explicitadas pelo regime Nazista alemão.


Essa conciliação entre os indivíduos se dá pela compreensão das diferentes perspectivas de mundo de cada ser através da tolerância. É importante entender o valor da relativização dos pontos de vista das diferentes culturas, dado que não há um modo de vida correto, absoluto. Portanto, o respeito é o mecanismo pelo qual é possível a humanização do homem.


As redações acima são cópias fac-símiles, ou seja, trazem erros dos autores e os mantêm.

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