Para fazer a diferença, faça valer a pena.

    


Escrever textos é dedicar-se diariamente a ler, escutar, imaginar, abstrair e passar por cima de obstáculos.

A Redação abaixo é de um aluno que fez como exercício para os vestibulares. Ele foi aprovado nas Faculdades de Medicina da USP - Pinheiros e UNIFESP. Escolheu a primeira.

Mas para esta privilegiada escolha ocorrer teve que lutar por algo e fazer mais que muitos, pois tinha ao lado os melhores concorrentes para esse tipo de prova de vestibular.


No Poliedro de São Paulo - Unidade Paraíso - há um trabalho diferenciado para Atendimento de Redação, a agenda é aberta toda segunda-feira 6 horas da manhã, com vagas limitadas. O aluno em questão, sempre chegava mais cedo e marcava o mesmo horário na segunda-feira mesmo, com o mesmo Atendente de Redação - uma doutoranda em linguística pela UFSCar. Marcava o último horário para ficar mais tempo e questioná-la sobre mais coisas que poderia aprender em psicanálise ou mesmo sobre Michel Foucault.

Resultado, escrevia dois textos por semana. Tinha um problema enorme: vocabulário rebuscado demais. A solução já estava encaminhada: fazer com que ele notasse que o que impressiona o leitor do texto é a capacidade de tornar clara e simples uma tese sofisticada.

O resultado concreto está abaixo:

Entre grades



"Na medida que são animais viventes, os seres humanos são limitados pelo corpo, pela carne; na medida que são homens pensantes, são limitados por sua língua, por sua cultura; na medida que são elementos de uma coletividade heterogênea, sofrem, contudo, uma existência limitada por fronteiras artificiais, moldadas de maneira arbitrária e, valendo-se da prerrogativa da segurança, encarceram grupos humanos, instaurando a não-convivência e, portanto, o medo, que não ousa cruzar fronteiras.


A história humana é marcada pela expansão dos seus horizontes, seja no desbravamentos de ambientes hostis, levando o homem ao seu limite físico em áridos desertos e gélidas montanhas, seja na construção de uma cultura vasta e complexa, permitindo à mente a elaboração de linguagens, com as quais é possível ir além do corpo carnal.


No âmbito político-social são elevadas muralhas, fortalezas, fronteiras que separam os homens de si mesmos: dos limites militarizados entre Estados aos não menos protegidos edifícios de luxo. Essas divisões, no entanto, não foram feitas para serem extrapoladas, mas para estabelecer diferenças entre um lado e outro da barreira, mundo capitalista ou mundo socialista, separados pelo muro de Berlim até 1989; ricos ou pobres, separados por mansões de luxo muradas; negros, latinos, asiáticos e outros, segregados por fronteiras imateriais na geografia racial de cidades como Los Angeles e Paris.

Todos esses muros, físicos ou ideológicos, convergem para a mesma situação limítrofe de medo e desconfiança, levando o homem à beligerância, à ameaça da própria coletividade, que perde visibilidade em meio a tantas divisões.

Opõem-se assim, os seres humanos que, enquanto encarcerados, não podem expressar sua essência social e coletiva. Enquanto permanecerem cerceados em grupos artificiais que impeçam o livre convívio e intercâmbio social, os homens estarão fadados à limitação de sua própria humanidade."

http://www.fuvest.br/vest2009/provas/2fase/por/por06.stm

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