Redação nota 10


Consumista, o Sujeito Paciente

Tântalo, personagem da mitologia grega, é conhecido pela maldição a que foi condenado após roubar, de um jantar no Olimpo, ambrosia e néctar (alimentos que lhe tornariam imortal). Zeus, como castigo, amaldiçoou-o a passar toda eternidade em um lago com água até o pescoço e frutos logo acima de sua cabeça. Apesar da proximidade, quando desejasse beber, as águas se abaixariam, quando quisesse comer os frutos, ventos afastariam os inatingíveis galhos. Do mesmo modo que no mito, o “deus” do capitalismo tem-nos condenado ao desejo eterno, que é a força motriz do consumismo: imersos em um lago de “sonhos”, com Iphones e lojas de grife, resumimos nossa existência à mera aquisição de bens que, aos poucos, limitam nossa identidade.

Se Tântalo tinha um lago e galhos, nós temos as vitrines. Repletas de propagandas, mercadorias e promessas de valorização do usuário, as vitrines estão à mostra para alimentar nossa sede. As constantes mudanças da moda, obsolescência programada de eletrônicos são ferramentas que, mesmo após a compra do sonhado objeto de desejo, fazem o cliente pensar na próxima vez que será reconhecido pela bela roupa ou pelo celular atualizado. Em pouco tempo, aquilo que era bonito torna-se feio, o que era “última palavra” em tecnologia não passa de mais um termo no dicionário. Sendo assim, pautar uma vida e os sonhos que a nutrem na compra desenfreada e desnecessária é entregar-se à insaciabilidade.

É inegável que o homem precisa consumir para fazer a manutenção de sua existência, comprar alimentos e utensílios que sejam bons coadjuvantes em sua vida. Uma avó que faz um bolo à mão tem tanto mérito quanto uma avó que usou uma batedeira. Ainda que simples, este exemplo evidencia que as mercadorias não, necessariamente, desumanizam o homem, não o tiram do papel de protagonista de sua vida. Entretanto, quando a “batedeira” supera a avó, quando o “camaro amarelo” torna-se um elemento identificador do homem, o protagonismo da vida passa ser do objeto – que agora é sujeito.

O capitalismo e as inúmeras mercadorias por ele oferecidas são tão tentadoras quanto as ambrosias de Tântalo. Contudo, conferir sonhos de uma vida à compra de objetos tende a nos condenar a uma eterna busca por frutos que, a depender da indústria, jamais serão atingidos, pois o desejo insatisfeito é sua primeira matriz energética. Cabe, agora, deixarmos os objetos apenas no papel de coadjuvantes, e não de protagonistas nas relações sociais, uma vez que, se o forem, deixaremos o protagonismo de nossas próprias vidas e por eles seremos comprados.

[Caio Vinícius Fernandes Rodrigues]
Tema: Consumismo
Nos “Manuscritos econômicos e filosóficos” (1844), ele constata que “o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós.” O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão. 

[Tema dado em 2014, pelo professor Robinson Bucci]

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